Causam perplexidade as últimas afirmações da ministra das Finanças de Angola nas reuniões do FMI a decorrer em Marrocos. Afirmou Daves que para haver um crescimento robusto da economia angolana é necessário existir a “criação de um ambiente de negócios mais propício (…) a desburocratização administrativa, passando também pelo reforço da segurança jurídica para os investidores e, principalmente, um papel maior para o setor privado.”
Vera Daves não é ministra das Finanças do Ruanda tendo desembarcado ontem em Luanda. É ministra da República de Angola desde 2019. Portanto, soa o ridículo quando faz estas afirmações genéricas, como se não estivesse há 4 anos no poder. O que Vera Daves já fez para criar um ambiente de negócios mais propício em 4 anos? Ou pela segurança jurídica dos investidores?
Daves está com um problema que afecta algumas das promessas tecnocráticas angolanas. Estudam bem a matéria dos manuais, falam inglês e chegam ao estrangeiro dizendo as coisas que os estrangeiros querem ouvir. Num primeiro momento, é convincente e ficam todos contentes. A questão é que este é um discurso duplo. Em casa não fazem o que dizem no estrangeiro e a economia angolana não é a economia americana, e por isso, entra-se numa esquizofrenia em que os ministros parecem viver em duas realidades. A angolana e a da imprensa global.
O discurso de Vera Daves é exemplo desta esquizofrenia. Não vale a pena ir para o estrangeiro dizer as coisas que eles querem ouvir. Vale a pena trabalhar em Angola e apresentar resultados. Este deslumbramento com o que não é angolano e não funciona em Angola tem de acabar.
Vera Daves tem de descer ao real, explicar porque deixou o seu orçamento acumular um “buraco” imenso, porque não se tomam medidas simultâneas de liberalização e estímulo da economia. O resto é conversa.