Foi uma coisa estranha, mal tinha começado o segundo mandato de João Lourenço e começaram vozes a pedir um terceiro mandato, enquanto, outras o negavam absolutamente.
Ainda agora, apenas está decorrido um ano do segundo mandato, faltando mais quatro anos e insiste-se no tema. Para quê?
A verdade é que o primeiro ano deste segundo mandato de João Lourenço não foi inspirador. Pareceu haver, excepto na política externa, um relaxe de tudo quanto eram esperanças lançadas no primeiro mandato, sobretudo, na primeira metade.
O combate à corrupção seria uma das razões fundamentais para prolongar a presidência de João Lourenço. É um processo longo, estruturante, que necessita de força política e atenção redobrada. No entanto, o que se tem assistido nos últimos meses foi a um rebaixamento dessa prioridade, traduzida pela recondução do Procurador-Geral de República (PGR) para mais um mandato de 5 anos. Este PGR tem sido o mais perfeito exemplo da escola soviética das aparências. “Eu finjo que combato a corrupção, os corruptos fingem que são combatidos”. A realidade, é que a grande corrupção deixou de ser combatida a partir de meados de 2021. Se João Lourenço não retomar esse combate, virado também para os seus ministros cujas cabriolices começam a ser demasiado públicas, não se vê que haja razão para qualquer terceiro mandato.
Outra razão seria o lançamento dum amplo programa de reformas económicas no sentido duma economia de mercado competitiva não dependente do petróleo e das importações. Também aqui João Lourenço deu sinais animadores, mas deixou-se submergir por uma gestão quotidiana da economia refém dos grandes interesses instalados.
Os mandatos presidenciais têm de ter objectivos nacionais e não a acumulação do poder pelo poder, o que redunda em mais estagnação. José Eduardo dos Santos é um exemplo disso, a dada altura não estava a fazer mais nada como Presidente da República, senão estar.
Não se quer isso de João Lourenço. Espera-se que o segundo ano do segundo mandato corresponda a uma reenergização da sua Presidência colocando nos temas internos reformistas o mesmo empenho que tem colocado nos negócios estrangeiros. Só nessa altura se justificará discutir um terceiro mandato. Não antes.