A segunda ronda de conversações indirectas entre a Somália e a Etiópia, liderada pela Turquia, terminou sem acordo.

As relações entre os dois países foram interrompidas em janeiro, quando Adis Abeba anunciou um acordo portuário com a Somalilândia – uma região separatista que reivindica a independência da Somália. A Etiópia, sem litoral, concordou em arrendar 20 km de costa à Somalilândia em troca do reconhecimento da independência da região. Mogadíscio afirmou que o acordo violava a integridade territorial da Somália.

A Turquia, que tem laços comerciais e de defesa com ambos os países e que luta por uma maior influência no Corno de África, terá sido convidada a intervir pelo Primeiro-Ministro etíope, Abiy Ahmed. Numa chamada com o Presidente turco, o Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, disse que o seu país estava pronto para “participar na cooperação económica e de desenvolvimento com a Etiópia”, mas insistiu que “essas parcerias devem sempre respeitar a soberania, a unidade e a integridade territorial da Somália e aderir ao direito e às normas internacionais”.

As tensões agravaram a cooperação em matéria de segurança contra o grupo terrorista al-Shabab. De acordo com os meios de comunicação social locais, o governo da Somália pediu que as tropas etíopes no país fossem substituídas por soldados egípcios que prestam serviço numa missão de manutenção da paz da União Africana. O Egipto, tem um conflito separado com a Etiópia por causa de uma mega-barragem controversa e ofereceu apoio militar à Somália. A proposta de Abiy de acesso ao mar também perturbou o vizinho Djibuti, que também se ofereceu para contribuir com tropas para a nova força de manutenção da paz da Somália.

A missão na Somália contra o al-Shabab deverá ter início em 2025 e a lista dos países que contribuirão com pessoal militar deverá ser divulgada no próximo mês.

Entretanto, Abukar Osman, representante permanente da Somália nas Nações Unidas, acusou a Etiópia, de contrabando de armas para a Somália e disse que a proliferação de armas alimentou os conflitos entre clãs e fortaleceu o al-Shabab.

A perspetiva de tropas egípcias perto das suas fronteiras é algo a que a Etiópia se opõe, e teme-se que esta disputa possa transformar-se num conflito por procuração no Corno de África, envolvendo vários aliados do Golfo que competem pelo controlo do Mar Vermelho.

A Etiópia faz fronteira com a Somália e o seu Ministério dos Negócios Estrangeiros respondeu que o país tem o direito de se defender. “Não há nenhum poder que possa impedir a Etiópia de tomar as medidas necessárias sem pedir autorização a ninguém”, disse Nebiyu Tedla, porta-voz do ministério, durante uma conferência de imprensa. “A Etiópia tem contribuído com tropas para a Somália há mais de uma década. A Etiópia tem preocupações de segurança decorrentes do Al-Shabaab. Por isso, a Etiópia está a acompanhar de perto esta questão”, acrescentou Nebiyu.

Recentemente, Hakan Fidan, o ministro dos negócios estrangeiros da Turquia, disse aos jornalistas que tinha proposto um acordo que garantiria o acesso da Etiópia ao mar através da Somália. Em contrapartida, disse que a Etiópia reconheceria a integridade territorial e a soberania política da Somália. Uma terceira ronda de conversações terá lugar a 17 de setembro.