Um grupo de senadores dos EUA apelou a sanções diretas às Forças paramilitares de Apoio Rápido (RSF) do Sudão e ao líder do grupo, o general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemeti.
Numa carta que foi enviada ao presidente dos EUA, Joe Biden, para pedir sanções ao abrigo da Lei Magnitsky , os senadores escrevem que Hemeti “cometeu abusos que merecem sanções”, referindo-se a alegações de que a RSF cometeu violações em massa, sequestros e assassinatos de figuras políticas proeminentes.
Os legisladores deram a Biden 120 dias para determinar se a RSF cometeu atrocidades contra os direitos humanos e se o presidente pretende impor sanções.
Em Setembro passado, os EUA impuseram sanções ao irmão de Hemeti, Abdelrahim Hamdan Dagalo, que é o vice-comandante da RSF, e a Abdul Rahman Juma, o principal general do grupo em Darfur Ocidental.
Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, responsáveis da ONU disseram que cerca de 800 mil pessoas na capital de El Fasher, no Norte de Darfur, estão em “perigo extremo e imediato” devido aos combates entre a RSF e as Forças Conjuntas de Proteção de Darfur – não árabes, grupos rebeldes alinhados com o exército sudanês.
A chefe de assuntos políticos da ONU, Rosemary DiCarlo, disse ao Conselho de Segurança que os relatos de um possível ataque “iminente” da RSF a El Fasher, que serve como centro humanitário, levantam “o espectro de uma nova frente no conflito”. DiCarlo acrescentou que “os combates em El Fasher poderiam desencadear conflitos intercomunitários sangrentos em todo o Darfur”.
No início de Abril, eclodiram confrontos entre a RSF e as Forças Conjuntas de Protecção em Mellit, uma cidade estratégica ao norte de El Fasher. E a oeste da cidade, imagens de satélite analisadas pelo Laboratório de Investigação Humanitária da Universidade de Yale indicaram que pelo menos nove comunidades foram arrasadas e incendiadas pelas milícias da RSF entre 31 de Março e 15 de Abril.
A RSF, predominantemente árabe, e várias milícias árabes locais têm como alvo Zaghawa, Masalit, Fur e outros grupos étnicos não-árabes, matando milhares de pessoas. Tem havido numerosos relatos de mulheres e meninas que foram violadas, vendidas nos mercados e forçadas à prostituição pela RSF e pelas milícias aliadas.
As atrocidades assemelham-se a uma repetição da guerra civil que começou em Darfur em 2003, quando milícias árabes “janjaweed” mataram milhares de não-árabes. Em 2008, cerca de 300 mil pessoas tinham sido mortas e 2,5 milhões deslocadas.
No conflito atual, as agências de ajuda humanitária da ONU deram o alarme sobre os riscos de fome após relatos de mortes por inanição. Uma conferência realizada em Paris na semana passada arrecadou 2 mil milhões de euros (2,1 mil milhões de dólares) em ajuda internacional para o Sudão. Mas os especialistas em segurança dizem que a solução para acabar com o conflito é parar o fornecimento de armas estrangeiras.
DiCarlo disse aos membros do conselho que a guerra estava a ser alimentada por armas de países estrangeiros que desrespeitam as sanções da ONU.
A guerra atraiu milícias regionais e nações como o Irão, os Emirados Árabes Unidos, a Rússia e a Ucrânia. Deslocou 9 milhões de pessoas – cerca de quatro vezes a população total de Gaza – mas recebeu pouca atenção dos meios de comunicação social.
Grupos de defesa dos direitos humanos apelaram ao apoio no estabelecimento de investigações internacionais e nas consequências diretas para os generais em guerra e aliados estrangeiros, tal como sugerido pelos legisladores dos EUA.