Após um arranque promissor entre 2019 e 2022, o PROPRIV (Programa de Privatizações) perdeu fôlego e revela agora um balanço decepcionante. Em seis anos, o programa rendeu ao Estado apenas 157 mil milhões Kz, sendo que, só a Sonangol arrecadou 76 mil milhões Kz. No total, foram encaixados 233 mil milhões Kz (cerca de 489 milhões USD), um valor que está longe das expectativas iniciais do Governo angolano.
Entre os 108 activos já privatizados, 26 foram alienações de participações da petrolífera nacional Sonangol. No entanto, o valor real obtido com as privatizações é ainda inferior ao anunciado, já que o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) inclui nos cálculos a permuta de uma participação de 31,78% na Puma Energy com a Trafigura, num valor estimado em 396,4 mil milhões Kz, que não representou qualquer encaixe financeiro directo.
Os números revelam um cenário preocupante: muitas das unidades fabris privatizadas, especialmente na Zona Económica Especial, continuam sem operar. Além disso, surgem casos de activos que mudaram de mãos após a celebração de contratos com o IGAPE, com alguns empresários a transferirem a gestão para terceiros devido a dificuldades na operação. Empresas como a Fazenda do Longa, em Cuito, foram devolvidas ao Estado após insucessos na gestão privada, expondo fragilidades na execução e supervisão do programa.
Outro sinal de fracasso é o crescente incumprimento nos pagamentos. No final de 2024, 13 empresas deviam 16,3 mil milhões Kz em prestações. A Endiama, por exemplo, está em falta com 6,3 mil milhões Kz relativos à rede de hotéis AAA. A I.E.P, ligada ao Alcaal Group, deve 3,8 mil milhões Kz, enquanto a Milbridge Holding, de Alexis Bayigamba, falhou o pagamento de 1,9 mil milhões Kz pela Inducabos.
O insucesso do PROPRIV levanta questões sobre a capacidade do Governo em garantir um processo de privatização transparente e eficiente. A falta de fiscalização e de mecanismos para assegurar o cumprimento dos contratos evidencia falhas de gestão que comprometem a confiança dos investidores e a recuperação económica do país.