A polícia abriu fogo sobre os manifestantes que tentavam invadir o Parlamento do Quénia enquanto os deputados aprovavam legislação para aumentar os impostos.
A polícia começou a disparar depois de o gás lacrimogéneo e os canhões de água não terem conseguido dispersar a multidão de milhares de pessoas que tinha dominado os agentes. Viam-se chamas a sair do interior do edifício.
Um paramédico disse que pelo menos 10 pessoas tinham sido mortas e um jornalista da Reuters, no exterior do parlamento, contou os corpos de pelo menos cinco manifestantes.
“Queremos encerrar o Parlamento e todos os deputados devem demitir-se”, disse Davis Tafari, um dos manifestantes, à agência noticiosa. “Teremos um novo governo”.
Os manifestantes opõem-se ao aumento dos impostos num país a braços com uma crise de custo de vida, e muitos pedem também a demissão do Presidente William Ruto. Também se registaram protestos e confrontos noutras cidades e vilas do país.
Os protestos começaram há uma semana. Na quinta-feira passada, uma pessoa foi morta e pelo menos 200 ficaram feridas em manifestações em todo o país, de acordo com grupos de direitos humanos e com a Autoridade Independente de Supervisão Policial, um organismo de controlo da polícia.
Os protestos foram impulsionados em grande parte pelo ativismo digital liderado por jovens. Os jovens quenianos utilizaram plataformas como o X e o TikTok para se oporem ao projeto de lei, financiarem, organizarem e mobilizarem protestos contra o mesmo.
Pelo menos 12 pessoas suspeitas de envolvimento nos protestos dos últimos cinco dias foram raptadas, de acordo com a Amnistia Internacional.
Na terça-feira, a emissora queniana KTN informou ter recebido ameaças das autoridades de encerrar a estação devido à sua cobertura dos protestos.
Ruto ganhou as eleições há quase dois anos com base numa plataforma de defesa dos trabalhadores pobres do Quénia, mas tem sido apanhado entre as exigências concorrentes de credores como o Fundo Monetário Internacional, que está a instar o governo a reduzir os défices para ter acesso a mais financiamento, e uma população em dificuldades.
Os quenianos têm lutado para fazer face a vários choques económicos causados pelo impacto persistente da pandemia de Covid, pela guerra na Ucrânia, por dois anos consecutivos de seca e pela desvalorização da moeda.
O Parlamento aprovou o projeto de lei das finanças na terça-feira, passando à terceira leitura dos deputados. A próxima etapa é o envio da legislação ao Presidente para assinatura. O Presidente pode devolvê-la ao Parlamento se tiver objeções.
O projeto de lei das finanças tem como objetivo arrecadar mais 2,7 mil milhões de dólares em impostos, como parte de um esforço para aliviar a pesada carga da dívida, em que só o pagamento de juros consome 37% das receitas anuais.
O Governo já fez concessões, prometendo eliminar os novos impostos propostos sobre o pão, o óleo alimentar, a propriedade de automóveis e as transações financeiras. Mas isso não foi suficiente para satisfazer os manifestantes.