Autor: Públio Cornélio
Não vale a pena esconder, há um problema com a dívida pública angolana que tem de ser encarado de frente. Esse problema não é a incapacidade de Angola pagar a dívida, é o facto desse pagamento absorver a maior parte das receitas ordinárias do Estado, obrigando a contrair empréstimos para pagar aos funcionários e às empresas.
Este facto impõe uma nova abordagem de Angola, que passa obviamente pela reestruturação da dívida através da negociação com credores para alongar prazos, reduzir taxas de juros ou até mesmo obter perdão parcial da dívida. E o primeiro desses credores é a China. As palavras mansas e os sorrisos falsos com a China devem acabar. Ou a China entra numa negociação séria com Angola acerca da dívida, ou Angola deve accionar os mecanismos de arbitragem existentes nos acordos de empréstimos bilaterais, uma vez que uma boa parte da dívida, também por culpa da China, foi usada para propósitos diferentes do bem comum angolano.
Não se pode continuar a fingir que o pagamento da dívida à China é legal e normal. Não é legal, nem é normal. Nada do que se passou entre a China e Angola foi normal, foi mais um saque e uma exploração extrativista neo-colonial. Contudo, a questão não se resolve com retórica inflamada, mas com uma negociação racional entre as partes.
O certo é que Angola não pode continuar a pagar à China, como tem feito até agora.