O primeiro mandato de João Lourenço foi marcado pelo combate à corrupção. Isso foi uma novidade num país onde a corrupção era a regra. O esforço foi grande, embora os resultados sejam mistos. Tivemos apenas duas condenações relevantes a penas de prisão (Augusto Tomás e Carlos São Vicente) e muitos dos alegados corruptos foram deixados de fora.
Se é verdade que hoje há uma maior consciência acerca dos males da corrupção, é bem certo, que não se pode dizer que esta tenha sido erradicada, ou mesmo manifestamente diminuída.
Na verdade, não se sabe. Há menos dinheiro, por isso, haverá menos corrupção e há mais atenção pública, admitindo-se que tal implique menos corrupção. Como também surgem países ocidentais a anunciar decisões de investimento, e nesses países há estritas leis contra a corrupção, talvez a corrupção diminua efectivamente.
Contudo, o segundo mandato de João Lourenço já não está a ser caracterizado pelo combate à corrupção, mas pela aposta nas obras públicas e infra-estruturas. Podemos dizer que o paradigma mudou, outra vez.
Estamos no paradigma tecnocrático: aeroportos, refinarias, centrais eléctricas, estradas, etc. Temos ministros técnicos que têm de trazer soluções técnicas para a melhoria das condições de vida do povo.
A questão é que as grandes obras são o chamariz, por excelência, da corrupção. Até que ponto estes tecnocratas estarão a renovar as práticas do passado? É algo que não sabemos, pois não se fala em investigações contra a corrupção em relação a actuais detentores de cargos públicos.
Na verdade, a prudência aconselhava que ao mesmo tempo que se aposta nos tecnocratas e nas obras, se mantivesse uma monitorização atenta de eventuais novas práticas corruptivas. Não se vá descobrir daqui a uns anos, que foi tudo igual ao passado.
Um saudável combate à corrupção tem de ter vagas de investigações que se sucedem, e não estar focado em determinados períodos. Não se pode estragar tudo, outra vez.