Uma nova vaga de escalada de ataques terroristas atribuídos aos jihadistas do Estado Islâmico, IS-Moçambique, localmente conhecido como Al-Shabaab, obrigou milhares de civis aterrorizados a fugir das aldeias de Chiure Novo, na província de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique.
O recente ataque à comunidade de Magaia, no distrito de Chiure, que provocou a deslocação, resultou na trágica perda de pelo menos quatro vidas no sábado. Outro incidente alarmante envolveu o incêndio de uma unidade sanitária no posto administrativo de Mazeze, no distrito de Chiúre, a 14 de fevereiro de 2024.
Segundo o administrador distrital Oliveira Amimo, o surto de atividades terroristas em Chiúre começou a 3 de fevereiro, com os militantes a entrarem na região a partir do distrito vizinho de Mecufi.
No recente ataque ao posto administrativo de Mazeze, foram destruídas uma capela católica, a secretaria do posto administrativo e a residência do chefe do posto.
O grupo jihadista reivindicou a autoria de um ataque recente no distrito de Macomia, onde pelo menos 20 pessoas perderam a vida. Os militantes têm também como alvo as Forças Armadas de Moçambique, intensificando as suas operações numa tentativa de se afirmarem como a principal franquia do EI em África.
O EI-Moçambique tem ocupado recentemente as primeiras páginas do Al-Naba, a publicação semanal de propaganda do Estado Islâmico, registando um maior número de ataques do que a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), que tem uma base operacional maior.
Os habitantes locais relatam centenas de vítimas, escolas destruídas e propriedades incendiadas nas bases operacionais do grupo terrorista. O número de pessoas deslocadas na região está a aumentar rapidamente, com o receio de novos ataques a levar os residentes a fugir não só de Magaia, mas também da aldeia vizinha de Ntonhane.
Em 2023, mais de 2 milhões de pessoas necessitavam de assistência humanitária imediata e de proteção em Cabo Delgado e nas províncias vizinhas. As estimativas da Comissão Europeia incluíam mais de um milhão de pessoas expulsas das suas casas, com cerca de 3,5 milhões a enfrentar uma insegurança alimentar aguda no norte de Moçambique.
Desde 2017, Cabo Delgado tem sido o epicentro de uma brutal insurreição jihadista, que resultou em milhares de mortes e deslocou mais de um milhão de pessoas. A ala de propaganda do Estado Islâmico indicou que os terroristas estão a visar sobretudo uma população de maioria cristã, uma tentativa que utilizam para inflamar as tensões religiosas onde quer que operem.
Os insurretos tomaram o controlo de cidades importantes, o que constitui uma ameaça para projetos de gás natural de vários milhares de milhões de dólares, cruciais para o futuro económico de Moçambique. Recentemente, a Total Energy ponderou a suspensão das suas atividades na região devastada pelo terror.
Apesar dos esforços das forças de segurança moçambicanas, apoiadas por aliados regionais e internacionais, a contenção da insurreição e a proteção dos civis continuam a ser um desafio.