O governo militar do Mali adoptou uma nova constituição que reforça os poderes do presidente e das forças armadas.

Além disso, vai criar um senado e relegar o francês de língua oficial para língua de trabalho. Actualmente, o Mali é governado por uma junta desde 2020.

O movimento da oposição denunciou estas reformas, que, segundo a comissão eleitoral, foram apoiadas por 97% dos votos expressos no referendo do mês passado. De acordo com o organismo oficial, a taxa de participação foi de 38%.

Os críticos receiam que estas alterações facilitem a quebra da promessa dos generais de devolver o poder aos líderes civis após as eleições presidenciais de fevereiro de 2024.

Esta nova constituição significa que o presidente interino, o coronel Assimi Goïta, pode agora ditar a política do governo e tem também poder de dissolver o parlamento.

O Tribunal Constitucional rejeitou um pedido de anulação dos resultados do referendo, pelo facto de a votação não se ter realizado em todas as regiões do Mali.

De acordo com o movimento de oposição do Mali, constituído por partidos políticos e organizações da sociedade civil, o resultado do referendo deveria ser anulado devido a “numerosas irregularidades” e “violações da lei”.

Ismaël Sacko, líder do Partido Social Democrata, que foi dissolvido pela junta no mês passado, classificou o referendo como “uma conspiração contra a democracia

A junta militar recebeu um enorme apoio popular quando tomou o poder, na sequência de protestos em massa contra o então Presidente Ibrahim Boubacar Keïta. As pessoas estavam fartas da incerteza económica, de eleições contestadas e da insegurança crónica.

Desde então, os dados sugerem que o governo militar do Mali fez poucos progressos na sua luta contra os islamistas que controlam algumas partes do país.

Todavia, o governo afirma que a nova constituição irá travar a propagação da insurreição jihadista que dura há 11 anos. Recentemente, o Mali decidiu expulsar todos os 12.000 soldados de manutenção da paz da ONU no país e pensa-se que emprega 1.000 mercenários russos do grupo Wagner como apoio de segurança.

No ano passado, os soldados franceses foram obrigados a abandonar o país e tem havido um ressentimento crescente em relação à antiga potência colonial e à sua actual relação com o Mali e com a África Ocidental em geral.