Moçambique está a correr um risco crescente de incumprimento da sua dívida, uma vez que as tensões políticas sobre as disputadas eleições do ano passado aumentaram com o regresso do líder da oposição, Venâncio Mondlane, a Maputo.

A economia do país tem sido devastada por meses de protestos que levaram ao encerramento de indústrias críticas, incluindo uma mina de grafite no norte de Moçambique, explorada pela empresa australiana Syrah Resources, que conta com a Tesla de Elon Musk entre os seus clientes.

Esta situação poderá também afetar os principais projetos de gás, com os quais se conta para atrair investimento direto estrangeiro, incluindo um projeto de gás natural liquefeito de 20 mil milhões de dólares da TotalEnergies. A Capital Economics alertou, numa nota recente, que o país “estará quase certamente a caminhar para um incumprimento soberano” se os planos forem abandonados. O projeto, no norte do país, já sofreu atrasos devido a preocupações de segurança decorrentes de uma insurreição rebelde na região.

Ao chegar ao principal aeroporto de Maputo, após mais de dois meses de exílio, Mondlane disse estar pronto para participar nas conversações sobre os resultados contestados de outubro. “Estou aqui em carne e osso para dizer que se quiserem negociar… Estou aqui”, disse Mondlane aos jornalistas.

Os resultados finais das eleições, divulgados em dezembro, mostraram que Daniel Chapo, do partido Frelimo, no poder, obteve 65% dos votos presidenciais. Mas os observadores internacionais afirmam que as eleições foram marcadas por irregularidades e Mondlane diz que a sua vitória foi “roubada”. A tomada de posse de Chapo como presidente está prevista para a próxima semana. Mondlane ameaçou tomar posse como líder no mesmo dia e liderar novos protestos.

No início dos protestos do ano passado, a S&P Global Ratings advertiu que a crescente agitação em Moçambique poderia aumentar os já elevados riscos de incumprimento. A situação económica incerta no país é agravada pelo impacto do ciclone Chido, que causou estragos na região em dezembro – matando 120 pessoas em Moçambique e danificando mais de 155.000 casas.

As negociações para um programa de crédito de três anos do Fundo Monetário Internacional também estão em suspenso. O FMI disse em dezembro que as discussões com as autoridades moçambicanas seriam retomadas “assim que a transição política estivesse concluída”.