Talvez um dia no futuro este ano seja visto como uma altura de semeadura, que gerou uma nova vida em Angola. Mas agora parece um ano perdido em violência verbal, arruadas e crispações. Não houve capacidade de ir além das eleições e também não houve capacidade de abrir portas de diálogo, traçar rotas conjuntas de futuro. Tudo oscilou entre o mutismo e a agressão. Assim, não é possível construir um país.

Um país não surge do nada, faz-se, tem de ser feito. Demora dezenas de anos, talvez centenas. Quando é que Portugal se tornou país? Talvez, apenas em 1385, mais de duzentos anos após a sua fundação. E os Estados Unidos? Possivelmente após a Guerra Civil de meados do século XIX, mais de 70 anos depois da independência. Por isso, não se queira que tudo em Angola seja imediato. O imediatismo afundou o país nas décadas passadas. Levou a nada, excepto uns bilionários ignorantes que deviam estar presos e por milagres inexplicados, mas não atribuíveis a qualquer força divina, gozam liberdades obscenas no Dubai e quejandos supostos paraísos terrestres.

Não são esses bilionários exilados que vão construir o país. Esses já sugaram tudo e não querem saber. Têm de ser os que cá estão. E os que cá estão têm de mudar de atitude. Nem força bruta, nem agressão. Não se vai a lado algum. Como não se foi este ano.

O que há de novo agora, neste Agosto, um ano após as eleições? Pouco ou nada. A UNITA diverte-se com um pedido de destituição do Presidente da República, que não a levará a lado nenhum a não ser ao confronto. O MPLA não existiu durante a maior parte do ano. Não há uma força viva a suportar o Presidente.

Tudo parece obedecer a interesses, talvez telecomandados de fora. As grandes potências voltam a lutar por África, os bilionários exilados anseiam por voltar ao tempo passado. E o povo? O povo sofre a falta de atenção. O povo quer segurança, estabilidade, comida, emprego.

É isso que devia ser governar, é isso que devia ser oposição. Foi isso que se teve pouco este ano.

Será que o ano que vem será diferente?