O rácio de crédito malparado na banca angolana disparou para 19,2% em 2024, o valor mais alto desde Junho de 2020, quando a Recredit integrou o ‘stock’ de incumprimentos do BPC. Em termos absolutos, o montante de crédito em mora cresceu 3,6 pontos percentuais face a 2023, atingindo 2,0 biliões Kz – cerca de 2 233 milhões USD –, mais 850 mil milhões Kz do que em Dezembro do ano anterior.
Este fenómeno não pode ser atribuído apenas ao agravamento das condições macroeconómicas: embora a depreciação do kwanza (–9,1% em 2024, face ao dólar) e o aumento das taxas de juro interbancárias (com a Overnight a escalar de 4,00% para um pico de 32,6% em Setembro) tenham pesado no serviço da dívida de famílias e empresas, a responsabilidade última cabe tanto ao Banco Nacional de Angola (BNA) como aos próprios bancos comerciais.
Por um lado, o BNA abusou do recurso às taxas de juro como única ferramenta de combate à inflação, elevando a taxa básica e suspendendo empréstimos de liquidez sem preparar medidas de compensação para os bancos, que viram as suas margens de financiamento no mercado interbancário disparar. Por outro, muitas instituições de crédito falharam no controlo de risco: continuaram a expandir carteiras de crédito sem reforçar adequadamente as provisões para incumprimentos nem a análise de solvabilidade dos mutuários.
É inaceitável que, num contexto de aperto monetário tão severo, não tenham sido implementadas linhas de suporte específicas para sectores vulneráveis nem mecanismos de renegociação do crédito para evitar arreliamentos em massa. O Governo também se exime de responsabilidade, não tendo promovido reformas estruturais – como a diversificação da economia e o fortalecimento do sistema judicial para acelerar processos de cobrança – que poderiam mitigar a deterioração da qualidade do crédito.
Fica, assim, claro que o aumento do crédito malparado resultou de uma conjugação de políticas monetárias excessivamente restritivas e da falta de diligência dos bancos na gestão de risco, agravada pela inércia do Executivo em implementar reformas estruturais indispensáveis.