Em 7 de fevereiro de 2024, um petroleiro não identificado chegou às costas de Trinidad e Tobago, derramando petróleo em praias e recifes de coral. O navio-tanque chamava-se “Gulfstream”, e era puxado por um rebocador com o nome Solo Creed.

A sua viagem posterior foi rastreada por meio de imagens de satélite enquanto navegava do Panamá para um local offshore de um porto da Petróleos de Venezuela (PDVSA) no norte da Venezuela, onde ficou “desaparecido” por vários dias, desligando o seu transponder de localização do Sistema de Identificação Automatizada (AIS).

O Solo Creed pertencia a indivíduos ligados à Melaj Offshore Corporation, uma empresa panamenha com histórico de transporte de petróleo venezuelano. No entanto, quando contactado pela imprensa, Augustine Jackson, um oficial de Melaj, afirmou que o rebocador tinha sido vendido em agosto de 2023 a um homem chamado Abraham Olalekan e estava a caminho da Nigéria.

Nada se ouviu falar do navio nos meses seguintes.

Entretanto, informações divulgadas pela Marinha angolana em 11 de Maio de 2024, relataram que o Solo Creed foi apreendido ao largo da costa de Luanda, por violação não autorizada do seu perímetro de segurança petrolífera offshore, designadamente, os blocos de extracção de petróleo 17 e 18. Estas zonas exclusivas são operadas por subsidiárias da BP e da TotalEnergies.

“Em declarações à imprensa, o comandante da Marinha angolana, Divaldo Fonseca, disse que os ocupantes da embarcação alegaram que pretendiam reabastecer-se com água e mantimentos, mas sem a devida autorização. […]

Divaldo Fonseca reiterou o compromisso da Marinha Angolana em continuar a desenvolver acções para garantir a inviolabilidade das águas nacionais.”

Nos últimos anos, a fronteira marítima entre Angola e a República Democrática do Congo tem estado em disputa. Embora nem o bloco 17 nem o 18 estejam localizados em águas disputadas, vários blocos ao norte estão.

Embora a detenção do Solo Creed tenha sido divulgada pela mídia local em Angola, os relatórios não mencionaram o papel do navio no derramamento de óleo três meses antes.

No dia 23 de maio, o governo de Trinidad e Tobago pareceu perceber a conexão. Um comunicado de imprensa foi publicado pelo Ministério da Energia e Indústrias Energéticas, no qual se solicitava que o Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos da CARICOM abrisse comunicação com Angola. .

O derrame de petróleo, que começou em Tobago mas chegou até Bonaire, tem um custo de limpeza estimado em 23,5 milhões de dólares, de acordo com o governo de Trindade e Tobago num relatório apresentado ao Fundo Internacional de Compensação pela Poluição por Petróleo.

Nenhuma seguradora foi identificada ainda para Solo Creed e Gulfstream, e ninguém se apresentou para reivindicar a responsabilidade pelos danos.

Será mais uma “batata quente” para o governo de Angola?