Apesar dos avanços na limpeza urbana no centro de Luanda, a periferia da cidade continua a enfrentar um grave problema de acumulação de lixo, expondo milhares de moradores a riscos de saúde e indignidade. Nos bairros da Boa Esperança e Golf 2, o cenário é desolador: ruas atulhadas de resíduos, esgotos a céu aberto e focos de água parada que alimentam um surto de cólera em crescimento acelerado.
Esta realidade contrasta de forma gritante com o centro da cidade, onde a recolha de lixo é realizada com regularidade e meios adequados. Enquanto na baixa se observa um esforço evidente por parte das autoridades, as zonas periféricas são ignoradas, evidenciando uma gestão desigual e desequilibrada que perpetua desigualdades.
O impacto desta negligência é sentido de forma mais severa pelas crianças, que, sem alternativas de lazer, brincam junto a montes de lixo, expondo-se a graves riscos de contaminação. “Aqui na periferia, o caminhão do lixo não passa”, desabafa Joaquim Pedro, residente no Golf 2, que lamenta o cheiro nauseante e a proliferação de doenças.
Especialistas de saúde pública, alertam que a má gestão de resíduos e a falta de saneamento básico são fatores-chave na disseminação de doenças como cólera e malária. No entanto, as autoridades continuam a falhar na implementação de soluções abrangentes e inclusivas.
É urgente que o governo provincial de Luanda tome medidas concretas para resolver esta crise. Entre as ações necessárias estão o aumento de contentores, fiscalização eficaz das empresas de recolha e campanhas de sensibilização para educar a população sobre a correta gestão de resíduos.
A desigualdade na gestão do lixo em Luanda não é apenas um problema sanitário, mas também uma questão de justiça social. Sem mudanças estruturais, as periferias continuarão a ser vítimas da incompetência governamental, enquanto o centro ostenta uma limpeza que não reflete a realidade da maioria dos seus habitantes.