As declarações de João Lourenço sobre a liberdade de imprensa em Angola provocaram um grande eco, especialmente entre os jornalistas e organizações ligadas à comunicação social.

Na conferência de imprensa realizada no âmbito de uma visita de trabalho à província do Huambo, o Presidente da República elogiou o desempenho da comunicação social e realçou a evolução positiva em comparação com o período do partido único. Nos dias que correm a liberdade de imprensa é uma realidade existente no país.

Esta linha de pensamento transmitida por Lourenço, não se encaixa seguramente no dia a dia de Angola, e isso ficou bem expresso nas várias apreciações feitas esta semana. O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, por exemplo considera que hoje o a comunicação social passa por uma fase de “estagnação e retrocesso”, no que diz respeito à liberdade de imprensa no país.  O que se vem assistindo ao longo dos anos é que o Estado está a tomar conta gradualmente dos media, ou então encerra-os pura e simplesmente, e estes procedimentos acabam por prejudicar o debate plural, que é um dos sinais evidentes de uma sociedade livre.

Já o presidente do conselho de governadores do Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA), André Mussamo sublinha que o que tem crescido é o “jornalismo bem-comportado”, expressão utilizada anteriormente pelo Presidente do Brasil, Lula da Silva. Aquele jornalismo que segue uma determinada cartilha para agradar o executivo tem aumentado, contudo, Massamo defende que há vários protagonistas da política angolana que não têm acesso aos media, e assim não há um equilíbrio na informação que deve ser veiculada para os eleitores.

Na nossa perspetiva, estas várias observações e críticas realizadas espelham, em grande medida, aquilo que se tem verificado no país. Todavia, há que procurar ser isento e recordar que no período de José Eduardo dos Santos (e não só nos tempos de partido único), a liberdade de imprensa não passava de uma miragem. Atualmente, ainda não estão reunidos todos os atributos para podermos “encher a boca” e dizer que Angola é um Estado com ‘liberdade de imprensa’. Mas, certamente temos assistido a uma evolução, com alguns avanços e recuos.

Aliás, de uma forma geral, tem-se verificado que a liberdade de imprensa tem vindo a conhecer um sério retrocesso em variadíssimas democracias ocidentais, quando outrora não se conjeturava tal cenário.