João Lourenço desde que assumiu o poder tem seguido uma política externa activa, querendo colocar Angola no mapa global.

Essa política começa na região em que Angola se tem assumido como um parceiro para a paz e estabilidade na África Central e Austral. O país reforçou o seu papel de mediador e estabilizador funcionando como uma pré-potência regional em substituição da África do Sul que se afunda nas suas contradições.

A um nível mais global, Lourenço abriu o país ao Ocidente de forma mais acentuada e aprofundou os laços com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, apostou na criação de laços com o Golfo Pérsico (que tardam em dar frutos no Dubai em relação à extradição de Isabel dos Santos) e tem feito aproximações a países relevantes como o Japão e a Índia.

Em relação a Portugal manteve uma boa relação, mas de algum distanciamento, o que contraria o frenesim com que as elites angolanas se acomodam em Portugal. Também tem relevo a tentativa de intensificar os aspectos económicos da CPLP, que não vão resultar, pois o Brasil boicota sempre grandes ambições para esta Comunidade Lusófona.

Tem havido também um distanciamento calculado da Rússia, sobretudo devido à invasão mal-sucedida da Ucrânia e a uma espécie de apoio sub-reptício que Putin deu (ainda dará? ) a Isabel dos Santos. Contudo, há que não interpretar erradamente esse distanciamento de Angola em relação à Rússia. Não se trata de um corte de relações, mas de uma reafirmação da soberania angolana e do seu papel determinante na África central e Austral. Angola é dos países que querem fazer sentir às várias potências que África não é mais um tabuleiro dos jogos de poder de terceiros, como foi no passado.

É neste âmbito que entra a actual visita do Presidente de Cuba a Angola e vice-versa. Cuba tornou-se um país exemplo dos males do alinhamento global das potências. O seu alinhamento com a União Soviética, em boa parte provocado pela reacção errada da administração Eisenhower, tem-lhe valido um estatuto de quase pária mundial que lhe tem limitado o desenvolvimento.

Paulatinamente, tal como Angola, Cuba tem de ser libertar dos espartilhos do passado, sem cair de braços abertos noutras dominações. É um caminho cauteloso entre os interesses de terceiros que Cuba tem de fazer para devolver ao povo os sonhos de bem-estar e progresso. O mesmo acontece com Angola.

Será nesta tentativa mútua de apoio de vias de afirmação das soberanias num mundo que voltou a ser palco de lutas entre potências que Angola e Cuba podem ter um percurso comum e encontrar algo de útil para fazer.