Na visita que efetuou na província do Huambo, o Presidente da República João Lourenço (JLo), aproveitou a ocasião para nos dar um lampejo da sua visão sobre Angola em várias matérias.

Em relação à liberdade de imprensa que, naturalmente foi destacada pela comunicação social, o Presidente disse com todas as letras que hoje existe liberdade de imprensa em Angola. Embora consideremos que está a ser trilhado um caminho nesse sentido, e não seja comparável aos tempos de José Eduardo dos Santos, ainda verificamos grandes lacunas e vícios de procedimentos que ainda não foram deixados. Isso mesmo é apontado pela oposição e algumas organizações de relevo, tais como a Human Rights Watch, que aponta a existência de interferências graves no trabalho dos jornalistas.

De qualquer forma, o que se destacou mais nas suas declarações, foi a grande “pantufada” que JLo deu aos preceitos socialistas. E isso ficou bem claro, quando se referiu à moeda nacional e taxas de câmbio, afirmando que “não há nenhuma moeda no mundo que é 100 por cento estável”. “Já lá vai o tempo do socialismo, em que alguns países tinham uma taxa de câmbio fixa. Eram taxas de câmbio que não eram realistas”.

Prosseguiu, salientando que Angola foi um dos casos em que a taxa de câmbio fixa se praticou durante décadas e isso não era bom para a economia. “Não vale a pena pensarmos que, neste exato momento em que o kwanza está mais fraco em relação ao dólar, que seja uma desgraça para a economia de Angola, nem é impedimento para que os turistas passem a vir para Angola”, acrescentou.

Das várias considerações enunciadas por JLo, saltou à vista o papel de complementaridade que o Presidente pretende que exista entre o Estado e o sector privado. Em relação aos media afirmou que “no tempo do partido único, o jornalismo praticado naquela altura era bem diferente daquele que é praticado hoje. Hoje existe liberdade de imprensa, não é só o Estado quem é detentor de empresas de comunicação social; o setor privado também está neste nicho de mercado”. Além disso, frisou que “a comunicação social privada não deixa de ser um negócio – e por sinal rentável, pelo menos noutras partes do mundo -, e aqui não deve ser diferente. Então, os acionistas é que têm de se preocupar em fazer os investimentos que se impõem no seu próprio negócio”.

A explanação do Presidente sobre como o país está e deve orientar a sua economia, a comunicação social, e mesmo o sector turístico, é uma ratificação do caminho liberal de mercado livre que o regime está a seguir, e por outro lado, uma confirmação da inaptidão da política socialista que era, pelo menos na teoria, a orientação seguida pelo governo de José Eduardo dos Santos.