Num relatório produzido este mês sobre Angola, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi mais cauteloso e prudente na análise económica feita a Angola. De acordo com a organização, o Banco Nacional de Angola (BNA), deve ser ainda mais rigoroso com a política monetária em 2023, em virtude da forte desvalorização cambial verificada no I semestre que, em conjunto com a subida dos preços da gasolina, fez acelerar a inflação.

O FMI alerta que “embora se preveja que o impacto inflacionário da supressão dos subsídios aos combustíveis seja mais forte em 2024, é necessário adoptar este ano uma política monetária mais restritiva, tendo em conta a forte depreciação da taxa de câmbio registada recentemente, que se repercute fortemente na inflação”.

Contudo, O BNA não tem dado ouvidos a esta recomendação, tanto é assim que a desvalorização do Kwanza face ao dólar tem sido acentuada e o Comité de Política Monetária do Banco Central tem mantido a denominada Taxa BNA nos 17 %, excepto em Julho, quando aumentou para 17,5 %.

Ora, segundo o Governador do Banco Manuel Tiago Dias, o aumento dos preços verificados no País no mês de Agosto, segundo dados do INE – inflação homóloga de 13,54% e mensal de 2,04% – se verificou devido a “factores sazonais e da insuficiência de oferta de bens e serviços”. Para alguns especialistas não é possível que a inflação medida pelo INE seja tão baixa uma vez que é indesmentível a subida dos preços dos bens de consumo, nalguns casos os preços até triplicaram desde Maio, razão pela qual o BNA deve definitivamente rever a sua política monetária.

O FMI chega mesmo a apontar para uma inflação anual de 18,8 % em finais deste ano devido “ao aumento dos preços da energia relacionado com a reforma dos subsídios aos combustíveis”, política que se iniciou em 2023 e que está previsto intensificar-se no próximo ano.

O Banco de Fomento Angola (BFA), também avança com uma previsão pessimista para a subida da inflação, podendo mesmo ficar acima dos 20 % no final do ano, caso o kwanza não consiga recuperar e não forem adotadas políticas monetárias mais restritivas.

O Gabinete de estudos económicos do Banco salienta que o aumento dos preços em agosto não se deveu unicamente de fatores sazonais, apontando a variação dos preços alimentares, muito acentuada, prevendo assim que a inflação mensal e homóloga se mantenha ascendente nos próximos meses.

“Acreditamos que a inflação homóloga terminará o ano rondando os 20% ou acima caso não haja alguma recuperação do kwanza e também um forte aperto da política monetária tendo em conta que com os atuais dados relativos ao mercado monetário o BNA deixou de tornar restritiva a política monetária“, pode ler-se na nota do BFA.

Dessa forma o BNA deve intervir de forma mais enérgica, no sentido de voltar a restringir a liquidez. Recorda-se que a moeda nacional depreciou mais de 45 % no semestre passado.