A crise de abastecimento de água em Luanda e nas províncias vizinhas, como Bengo e Icolo e Bengo, expõe de forma gritante a incapacidade do Estado angolano em gerir os recursos hídricos e garantir condições básicas de vida aos seus cidadãos. Há semanas que as torneiras de várias zonas permanecem secas, deixando milhões à mercê de camiões-cisterna e de preços que duplicaram devido à elevada procura.
O fornecimento público de água, responsabilidade da Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL), está praticamente colapsado, com “roturas de condutas” e falta de produtos para purificação da água a serem apontados como causas da escassez. Esta inação do Estado não apenas prejudica a população como também agrava problemas de saúde pública, num contexto em que a região enfrenta um surto de cólera com mais de 400 casos desde o início de janeiro.
A dependência de camiões-cisterna e tanques subterrâneos geridos por agentes privados tornou-se uma alternativa cara e insustentável para muitas famílias. Camiões que antes cobravam 20.000 kwanzas por 20.000 litros de água agora exigem entre 40.000 e 60.000 kwanzas, um aumento abusivo para a maioria da população, que já luta para sobreviver.
As condições precárias das vias, especialmente nas periferias, elevam ainda mais os custos, refletindo a negligência do Estado em investir em infraestrutura básica. Além disso, relatos de cidadãos sobre a má qualidade da água reforçam a sensação de abandono.
É inaceitável que, em pleno século XXI, Angola continue a enfrentar doenças evitáveis como a cólera devido à falta de água potável. O Governo angolano precisa urgentemente de priorizar investimentos em saneamento, infraestrutura e fornecimento de água, sob risco de perpetuar o ciclo de miséria e desigualdade que atinge os mais vulneráveis.