O Corredor do Lobito está a ser apresentado como o novo milagre de Angola. Possivelmente, algumas das empresas de comunicação que tornaram o vazio português num milagre constante que teve como resultado o país ser ultrapassado pela Roménia (um dos mais atrasados da Europa), são as mesmas que contam histórias de encantar sobre o Corredor do Lobito.
É evidente que o Corredor do Lobito é uma excelente aposta e pode trazer muito desenvolvimento a Angola, como já no passado colonial tinha trazido. Também é evidente que o novo apoio americano é uma peça importante. Não existam dúvidas, somos a favor do Corredor do Lobito e apoiamos a iniciativa.
O que queremos fazer é distinguir a propaganda da realidade e propor uma solução executiva de sucesso.
Neste momento, as linhas de comboio não estão preparadas para os objectivos do corredor. É preciso um manifesto investimento na correcção dos perfis das linhas e nas máquinas e demais material circulante. Nada está pronto. A linha férrea não tem tido manutenção.
Ademais, há que considerar que o conceito Corredor do Lobito envolve uma vasta zona de influência que inclui o porto com o mesmo nome, o terminal mineiro, estradas e aeroportos, além de plataformas logísticas e as comunidades envolventes ao longo do caminho. Finalmente, o mais importante: as matérias-primas a serem transportadas da sua fonte até ao porto. Actualmente, apenas uma empresa canadiana se comprometeu a usar o Corredor. Muitas das minas estão em mãos chinesas. Há que não perder de vista esse aspecto.
Como se vê, o trabalho é enorme. Não se pressente que o Estado, através dos seus ministérios sectoriais tenha capacidade para coordenar este trabalho hercúleo. Aliás, muitos estudiosos já anotam que não está claro quem é responsável por todo o projecto. Também há o perigo da burocracia entravar tudo e não haver um acompanhamento articulado das variadas actividades.
Nessa medida, para evitar já qualquer caos, tem sentido criar-se um “Czar” para o Corredor do Lobito, com capacidade de descentralizar, alguém que dirigisse uma estrutura apenas dependente do Presidente da República e que pudesse coordenar e executar todas as tarefas essenciais ao lançamento deste projecto ambiciosos. Caso contrário, corre-se o risco de perder a visão de conjunto, de permitir guerras entre ministérios, de deixar a burocracia dominar, de estragar tudo.