A tomada do poder pelos islamistas na Síria deixou o Egito apreensivo e cauteloso quanto aos laços futuros, anos depois de o Presidente Abdel Fattah al-Sisi ter chegado ao poder ao derrubar a Irmandade Muçulmana.
O Presidente Bashar al-Assad foi apoiado pelo Egipto até à última hora e, com os islamistas do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) agora no controlo da Síria, o Egipto preocupa-se com o impacto que a mudança poderá ter.
Vários outros Estados árabes agiram rapidamente para se relacionarem com as novas autoridades de Damasco, enquanto o Cairo foi mais cauteloso.
Depois de ter declarado o apoio do Egipto a Assad apenas três dias antes da sua destituição, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Badr Abdelatty, esperou três semanas antes de telefonar ao seu novo homólogo sírio e instou as autoridades de facto a praticarem a “inclusão”.
Nos dias que se seguiram ao derrube de Assad, Sisi não se mostrou muito empenhado.
No plano interno, o Cairo tem-se manifestado contra qualquer possibilidade de os acontecimentos na Síria poderem inspirar agitação no seu país.
De acordo com a Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, um grupo de defesa dos direitos humanos, as forças de segurança detiveram 30 sírios que celebravam a queda de Assad, três dos quais poderão ser deportados.
As autoridades também endureceram as restrições de visto para os sírios, exigindo que eles recebam autorização de segurança.
Nas horas que se seguiram ao derrube de Assad, os meios de comunicação social alinhados com o Estado saudaram a estabilidade do Egipto face à turbulência regional.
Transmitiram uma montagem que combinava cenas de agitação, exercícios militares e projectos de desenvolvimento, acompanhados de um discurso de 2017 em que Sisi afirmava que as forças por detrás da guerra na Síria poderiam voltar a sua atenção para o país.
A raiva foi ainda mais alimentada pela partilha online de uma fotografia do novo líder sírio Ahmed al-Sharaa posando ao lado de Mahmoud Fathi, uma figura da Irmandade Muçulmana que foi condenada à morte à revelia pelo assassinato do antigo procurador público do Egipto Hisham Barakat.
As autoridades libanesas também prenderam o ativista da oposição egípcia Abdul Rahman al-Qaradawi, com base num mandado egípcio, depois de este ter celebrado a queda de Assad na Internet.
A queda de Assad alterou o equilíbrio geopolítico do Médio Oriente, diminuindo a influência do Irão e reforçando significativamente a da Turquia.
Enquanto o Irão apoiava Assad, a Turquia apoiou durante décadas a oposição síria.
Para o Egipto, a vitória da Turquia é motivo de preocupação, dada a rivalidade de longa data entre as duas potências.