O Governo egípcio reafirmou os seus planos de lançar um cabo elétrico submarino com a Grécia para permitir que a eletricidade proveniente de instalações solares egípcias abasteça o país e o mercado energético europeu em geral.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, Sameh Shoukry, reuniu-se com o seu homólogo grego na Assembleia Geral da ONU, para discutir o chamado interconector GREGY.
Os planos estão a ser liderados pelo Grupo Copelouzos, um conglomerado grego, e pela Infinity Power – uma joint venture entre a empresa de energias renováveis Masdar, dos Emirados Árabes Unidos, e a empresa egípcia Infinity.
O interconector poderá transmitir 3 000 MW de energia solar e eólica produzida pela Infinity Power para a Grécia através de um cabo elétrico submarino com cerca de 1400 km de comprimento.
O projeto “constitui uma grande oportunidade” para a Europa, afirma Carlos Torres, responsável pelo estudo dos mercados do gás e da eletricidade na empresa de consultoria Rystad Energy. O projeto “representa uma grande oportunidade” para a Europa, que está a fazer “tudo o que é possível” para reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis.
“O Egipto tem muito melhores condições do que a maior parte da Europa para desenvolver sistemas solares”, salienta Torres. De facto, um estudo do Banco Mundial de 2020 mostrou que o Egipto e outros países do Médio Oriente e do Norte de África têm o maior potencial de energia solar do mundo, enquanto os países do Norte da Europa têm as condições menos favoráveis para a energia solar.
Embora a luta da Europa pela energia tenha sido bem documentada desde a invasão russa da Ucrânia, o Egipto tem as suas próprias necessidades de energia. O país sofreu uma série de apagões este verão, o que revela uma incapacidade a longo prazo de investir em energia para a sua população em crescimento.
No entanto, com vários projetos energéticos atualmente em construção – incluindo a primeira central nuclear do país – Torres acredita que o Egipto desfrutará de uma “situação mais confortável” no futuro, permitindo-lhe satisfazer o abastecimento interno e, ao mesmo tempo, exportar energia.
O interconector GREGY é um dos vários esquemas concebidos para ligar o Norte de África à Europa. Já existem dois cabos submarinos que transmitem eletricidade entre Marrocos e Espanha. Estão em fase de planeamento vários outros projetos, incluindo uma série de esquemas de fornecimento de energia da Tunísia à Itália.
O interconector GREGY, se for construído, será mais longo do que qualquer linha de transporte submarino atualmente em funcionamento. Teria quase o dobro do comprimento da atual detentora do recorde, uma ligação recentemente concluída entre a Dinamarca e a Grã-Bretanha.
Mas o GREGY seria mais pequeno do que outros projetos em estudo, nomeadamente um cabo proposto que forneceria eletricidade produzida em Marrocos diretamente à rede elétrica britânica.
Este projeto, desenvolvido pela Xlinks, uma empresa britânica em fase de arranque, exigiria um cabo submarino com uma extensão de 3800 km em torno do extremo ocidental da Europa. O comprimento extremo da ligação aumentaria a quantidade de eletricidade perdida durante a transmissão, mesmo que as recentes melhorias tecnológicas reduzam as perdas de transmissão.
A abordagem do interconector GREGY parece mais prática, uma vez que leva os electrões gerados no Egipto até ao ponto mais próximo do continente europeu – a partir do qual a energia poderia ser fornecida a outros países europeus.
Embora os promotores estejam a empregar uma variedade de abordagens, parece haver poucas dúvidas de que os recursos solares do Norte de África continuarão a atrair o olhar dos governos europeus, ávidos de energia, à medida que procuram no mundo alternativas ecológicas ao gás russo.