O Corno de África encontra-se novamente à beira de um conflito de grandes proporções, com os recentes combates em Tigray, no norte da Etiópia, a ameaçarem reabrir feridas históricas e envolver atores regionais numa guerra devastadora. A luta pelo poder na Frente de Libertação do Povo de Tigray (FLPT) intensificou-se após uma fação dissidente ter tomado o controlo de Adigrat e da principal estação de rádio de Mekelle, a capital regional. As autoridades locais classificaram os eventos como um “golpe de Estado”.
Getachew Reda, líder da administração interina de Tigray, acusou o seu rival, Debretsion Gebremichael, de aliar-se ao governo da Eritreia para reacender o conflito. Debretsion, que lidera uma fação da FLPT apoiada pelas Forças de Defesa de Tigray (FDT), poderá ter estabelecido um acordo para controlar a lucrativa extração ilegal de ouro na região. Este cenário eleva as tensões entre a Etiópia e a Eritreia, que já enfrentaram uma guerra fronteiriça brutal após a independência eritreia em 1993.
A Eritreia, liderada por Isaias Afwerki, continua a ocupar áreas fronteiriças contestadas, apesar dos apelos internacionais para a retirada das suas tropas. A escalada militar pode ter repercussões regionais graves, especialmente com o Sudão a fornecer apoio às FDT durante a guerra civil anterior. Analistas alertam que um novo conflito poderia desestabilizar o Sudão e o Chade, criando um corredor de instabilidade entre o Sahel e o Mar Vermelho.
O conflito coloca também em risco os esforços da Etiópia para recuperar o acesso ao mar, com Adis Abeba a negociar com a Somália e a Somalilândia. A instabilidade crescente ameaça agravar a crise humanitária em Tigray, onde cerca de 2,4 milhões de pessoas dependem de ajuda internacional para sobreviver.
O Corno de África caminha assim para um ponto de rutura, com consequências potencialmente catastróficas para toda a região.