O surto de cólera no município de Cacuaco, província de Luanda, infelizmente é um “deja vu” da saúde pública em Angola. Segundo o Ministério da Saúde, foram registados cinco óbitos em 58 casos suspeitos da doença.

O médico Adriano Manuel aponta que a causa principal da cólera está diretamente relacionada à falta de saneamento básico, agravada pela pobreza e a luta pela sobrevivência da população. A insalubridade do meio ambiente, com a recolha irregular de lixo e a escassez de água, principalmente em áreas periféricas da capital, são fatores que potencializam o surgimento de diversas doenças.

Não há um sistema de recolha e tratamento adequado do lixo e da água, o que acaba por influenciar negativamente e favorecer a proliferação da cólera no país. A cólera é um problema de saúde pública; fica mais uma vez evidente a falta de investimentos no sistema primário de saúde, que poderia solucionar aproximadamente 90% das questões epidemiológicas do país, como a malária, doenças diarreicas agudas e respiratórias.

As autoridades de saúde já acionaram medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo a desinfeção de áreas contaminadas, identificação e rastreamento de contactos, assim como investigação epidemiológica e laboratorial para a confirmação dos casos suspeitos. Contudo, o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola alerta que o país não possui um sistema capaz de controlar um surto de cólera, devido à falta de medicamentos e soro de reidratação nos hospitais. Ele critica a priorização do sistema curativo em detrimento do sistema preventivo por parte do governo, o que poderia evitar a ocorrência de doenças como a cólera