A epidemia de cólera em Angola continua a avançar sem tréguas, revelando não só a gravidade da crise sanitária como também a fragilidade da resposta governamental. Na quarta-feira foram notificados 337 novos casos e sete mortes, elevando o total acumulado para 16.719 infecções e 558 óbitos. Benguela, com quase todos os seus municípios afectados, lidera com 132 novos casos, seguida por Cuanza Sul, Luanda e Malanje.
A situação é alarmante e a resposta estatal tem-se revelado, mais uma vez, insuficiente. A escassez de água potável e a crónica ausência de saneamento básico em grande parte do território nacional criam o terreno fértil para a propagação da cólera e de outras doenças como a malária, que também ceifa vidas diariamente.
A Organização Mundial da Saúde já classificou a situação como “crítica”, num contexto de múltiplas crises sanitárias. Apesar dos esforços em curso — envio de equipas de resposta rápida, criação de centros de tratamento e campanhas de vacinação — a lentidão na actuação e a incapacidade de garantir infraestruturas básicas de saúde pública são evidências de uma governação negligente.
Dados internacionais indicam que por cada caso confirmado existem, em média, quatro não notificados. Muitos centros de saúde não possuem sequer os meios para diagnosticar adequadamente a doença, o que perpetua a sua disseminação silenciosa.
A cólera, associada ao consumo de água e alimentos contaminados, é uma doença evitável. A sua persistência, no entanto, revela um Estado ausente e ineficaz, incapaz de garantir condições mínimas de vida a milhões de cidadãos. A vacinação e a higiene são armas poderosas — mas, sem investimento estrutural, não passam de paliativos num cenário de abandono prolongado.
Até quando será a nossa população refém da incompetência?