Os preços no consumidor chinês entraram em deflação no mês passado, pela primeira vez em mais de dois anos, segundo dados oficiais.

Os números surgem um dia depois de terem sido divulgados dados que mostram que as importações e exportações do país caíram mais acentuadamente do que o esperado em julho, à medida que a procura global de produtos chineses diminui.

Os retalhistas chineses foram atingidos por um abrandamento das vendas. Isto significa que os retalhistas que se abasteceram de bens à espera de um aumento da procura após o levantamento das restrições da pandemia estão agora sob pressão para baixar os preços.

O custo dos automóveis também baixou, depois de os cortes de preços da Tesla terem desencadeado uma guerra de preços, com outras marcas a baixarem também os seus preços.

As fábricas chinesas já estão a cobrar menos pelos seus produtos, reagindo ao enfraquecimento da procura após a queda dos preços das matérias-primas. A inflação dos preços no produtor na China, que acompanha os preços à porta da fábrica, foi de -5,4% em termos homólogos em junho.

As autoridades minimizaram as preocupações com a deflação. Liu Guoqiang, vice-governador do banco central, afirmou no mês passado que não haveria riscos de deflação na China no segundo semestre do ano, mas observou que a economia precisa de tempo para voltar ao normal após a pandemia.

O governo estabeleceu um objetivo de inflação no consumidor de cerca de 3% este ano.

Apesar dos recentes estímulos políticos, os consumidores e os fabricantes mantiveram-se cautelosos, num contexto de um mercado imobiliário ainda fraco e de uma elevada taxa de desemprego dos jovens, bem como de uma menor apetência das empresas estrangeiras para investir na China.

A queda dos preços pode parecer atractiva para os consumidores ocidentais, onde a inflação atingiu os níveis mais elevados das últimas décadas no ano passado.  Mas a deflação pode prejudicar o crescimento económico, uma vez que os consumidores adiarão a compra de produtos se pensarem que estes serão mais baratos no futuro. Esta situação leva as empresas a reduzir os seus investimentos, uma vez que os seus lucros diminuem, e pode levar a um congelamento das contratações ou ao despedimento de trabalhadores.

As autoridades chinesas terão exercido pressão sobre economistas locais de renome para que não discutam as tendências negativas da economia, incluindo a deflação, informou o Financial Times.

Jim Reid, estratega do Deutsche Bank, afirmou que os dados sobre o comércio realçam que a economia chinesa está a ser “arrastada para baixo pela fraqueza da procura global e por um abrandamento interno”.