Após resistir a apelos de dentro do Partido Democrata para que renunciasse, o presidente Joe Biden anunciou no domingo que não concorrerá à reeleição em novembro. Como ‘cartão de saída’ endossou a vice-presidente Kamala Harris para substituí-lo.
E agora? A atitude de Biden significa que os delegados que prometeram votar nele agora podem votar em quem quiserem, abrindo a porta para o partido se reunir atrás de outro candidato antes da Convenção Nacional Democrata. Como alternativa, o partido poderia conduzir uma convenção aberta onde os possíveis indicados disputam o apoio dos delegados na Convenção Nacional Democrata em 19 de agosto. Mas esta situação Harris já pôs de parte.
Bill e Hillary Clinton já se manifestaram em apoio a Harris, com mais pesos pesados do partido esperados para endossá-la nos próximos dias. É improvável que outros candidatos em potencial se manifestem, de forma a não gerar o caos. A governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, já anunciou que não está interessada na nomeação, e o governador da Califórnia, Gavin Newsom, endossou Harris.
Mas isso não significa que outros não considerarão uma candidatura. Ainda assim, Harris é uma sucessora óbvia por mais razões do que apenas ser a VP de Biden. É importante lembrar que o fundo da campanha Biden-Harris — totaliza US$ 95,9 milhões no final de junho — pode ser facilmente transferido para ela.
E quem é Kamala Harris? Harris é a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira asiático-americana a ascender à vice-presidência. E ela será a primeira mulher presidente dos EUA se for eleita.
Harris começou sua carreira política como promotora, promotora distrital e procuradora-geral do estado na Califórnia, e foi eleita para o Senado dos EUA em 2016. O seu histórico na aplicação da lei tem sido ao mesmo tempo uma dádiva e uma maldição para as suas campanhas políticas, dando aos oponentes de ambos os lados elementos para apontar quando ela era dura demais ou não dura o suficiente com o crime.
Como vice-presidente, Harris tem lutado para se definir ao mesmo tempo em que é incumbida de uma pasta de questões que inclui direitos de voto e combate à migração ilegal na fronteira sul.
E como ela se pode sair contra Trump? Uma pesquisa da TheEconomist/YouGov aponta que 79% dos democratas apoiariam Harris como indicada pelo partido e, em pesquisas recentes, Harris está 2% atrás de Trump. A nível nacional, 46% vs 48%.
Tendo sido vice-presidente de Biden, Harris será atacada pela forma como a administração lida com a fronteira e a economia.
Contudo, ela poderá trazer um novo vigor ao Partido Democrata. Harris, aos 59 anos, também traz juventude para uma campanha que antes era entre os dois candidatos mais velhos de todos os tempos. Apesar de ter uma carreira política de décadas, a maioria dos americanos não conhece Harris de verdade, o que lhe dá a oportunidade de causar uma nova impressão nos dias restantes que faltam até à eleição.