Já sabemos que o corte do subsídio dos combustíveis é (e vai ser) uma realidade. Dizem-nos que Angola tem a quarta gasolina mais barata do mundo e isso é insustentável. Agora, anunciam-se aumentos das tarifas da electricidade em 11,5% e as da água 30% a partir de Junho. Também se afirma que são demasiado baratas e isso é insustentável para as finanças públicas.

Não se duvida que os preços dos combustíveis, electricidade e água sejam baratos e pesem nas finanças públicas. Aceita-se esse argumento.

Mas alerta-se que tal envolve a mudança do pacto entre o governo e a sociedade prevalecente desde 2002, em que o governo dava ao povo em troca de governar como queria. Se o governo deixa de dar, o povo torna-se mais exigente. Esta não é uma questão ideológica ou de oposição contra governo. É um facto. As pessoas vão sentir isso, vão pensar isso.

Além da mudança do pacto constitutivo pós-guerra, há outro aspecto a ter bem em conta. O governo passa a ter que ser muito mais exigente com os seus gastos. Tem de dar o exemplo. Se aumenta os preços ao povo, tem de aumentar o seu rigor. Abusos como aqueles que estão a ser descritos no governo provincial do Kuango-Kubango têm de acabar, as orgias de compras de carros com dinheiros públicos, também têm de acabar.

Estas mudanças na política têm de ser percebidas, senão estes aumentos terão efeitos catastróficos. O puro financismo seguindo planilhas mal pensadas do FMI tem consequências desastrosas nos sensíveis equilíbrios políticos em Angola. Muito cuidado.