A dívida de 7.5 mil milhões de dólares que o Estado angolano detém para com a Sonangol transcende a mera transação financeira; representa um sintoma profundo de uma relação intrinsecamente problemática e perniciosa entre o governo e a sua empresa petrolífera estratégica. Esta situação não só compromete a saúde financeira da Sonangol e a sua governação, como também acarreta implicações mais vastas para a estabilidade económica de Angola.
Historicamente, a Sonangol tem desempenhado o papel de “vaca leiteira do Estado”, funcionando como uma fonte informal de financiamento para diversos projetos governamentais e programas sociais. Esta prática, ao longo do tempo, tem drenado sistematicamente os recursos da empresa, prejudicando severamente a sua capacidade operacional e de investimento no seu negócio principal. A ausência de uma separação clara entre os objetivos comerciais da Sonangol e as necessidades fiscais do Estado criou um ambiente propício à acumulação desta dívida massiva, distorcendo fundamentalmente a governação corporativa da empresa e a sua viabilidade comercial.
Esta dívida é uma manifestação direta da histórica falta de disciplina fiscal do Estado, que, em vez de gerir as suas finanças de forma independente, recorreu à Sonangol como uma tesouraria informal. Esta relação financeira opaca tem fomentado uma notória falta de transparência e uma governação corporativa deficiente, tanto no Estado como na própria Sonangol, dificultando a responsabilização. Os capitais que deveriam ter sido reinvestidos na empresa para manutenção ou expansão foram desviados para satisfazer as exigências financeiras do Estado, enfraquecendo a Sonangol internamente.
Assim, a capacidade da Sonangol para competir globalmente, atrair parceiros e modernizar as suas operações é severamente limitada pelo seu estado financeiro comprometido e pela ausência de autonomia. O progresso lento na reestruturação da dívida agrava estes desafios. Embora a Sonangol mantenha a sua importância estratégica para a economia angolana, a resolução desta dívida e a concessão de maior autonomia, baseada em princípios comerciais, são cruciais não só para a sua sobrevivência, mas também para os esforços mais amplos de diversificação económica de Angola.