Um relatório da ONU que afirma que o Ruanda e o Uganda prestaram apoio ao grupo rebelde Movimento 23 de março (M23) que opera no leste do Congo, está a causar um grande rebuliço.
“Temos soldados ugandeses a morrer ao lado de soldados congoleses nas províncias de Ituri e Kivu do Norte a combater as [Forças Democráticas Aliadas], rebeldes que são originalmente ugandeses, e, por outro lado, estão a dar apoio aos rebeldes.” disse Patrick Muyaya, porta-voz do governo congolês.
O grupo de peritos do Conselho de Segurança das Nações Unidas concentrou-se principalmente no Ruanda e no M23. O seu relatório afirma que cerca de 3.000 a 4.000 soldados ruandeses combateram ao lado dos rebeldes do M23. “Desde o ressurgimento da crise do M23, o Uganda não impediu a presença do M23 e das tropas [das Forças de Defesa do Ruanda] no seu território ou a passagem através dele”, afirma o relatório, publicado a 8 de julho.
Os peritos da ONU afirmaram ter obtido provas de “apoio ativo” por parte de oficiais militares ugandeses, incluindo a deslocação do chefe militar do M23, Sultani Makenga, ao Uganda para reuniões.
O Uganda negou o seu envolvimento. O porta-voz adjunto da defesa do Uganda, Deo Akiiki, classificou as alegações como “risíveis, sem fundamento e ilógicas”. Desde o ressurgimento dos combates em 2021, o M23 apoderou-se de grandes extensões de território no Kivu do Norte.
Esta disputa corre o risco de escalar numa guerra altamente complexa e mortal. O Uganda acolhe a maioria dos refugiados congoleses, mais de 500.000, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados.
Uma trégua humanitária que deveria terminar a 19 de julho foi prolongada por 15 dias, até 3 de agosto, anunciou Washington, embora essa trégua só tenha sido parcialmente respeitada quando começou a 5 de julho.
Também têm havido combates noutras regiões do país. Pelo menos 70 pessoas, incluindo nove soldados, foram mortas pela milícia Mobondo num ataque mortal à aldeia de Kinsele, no oeste do Congo, em 13 de julho.
De acordo com as estimativas da ONU, mais de 1,8 milhões de pessoas foram expulsas das suas casas nas últimas seis semanas, entre os 7,3 milhões de pessoas deslocadas internamente devido aos combates no Congo.
Tropas do Malawi, da África do Sul e da Tanzânia foram destacadas para o Congo desde dezembro de 2023, no âmbito de uma missão de manutenção da paz enviada pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, composta por 16 membros.
No entanto, os líderes regionais têm sido instados a exercer mais pressão sobre as nações africanas diretamente envolvidas no conflito, como o Uganda e o Ruanda, numa tentativa de abrandar a violência.
Refira-se também que a última reunião da União Africana realizada em Accra, quase não abordou o conflito no Congo. O recente acordo de cessar-fogo anunciado pela Presidência angolana, entre o Ruanda e a RDC, e que entrou em vigor ontem, é um sinal de alívio das tensões entre os dois Estados. Contudo, ainda é muito cedo para se aferir, se este acordo abrirá caminho direto para a paz, e consequentemente para a ‘desescalada’ do conflito.