Nos últimos cinco anos, os preços dos serviços de saúde em Angola aumentaram 123,3%, sendo este o sector com maior inflação entre todos os bens e serviços consumidos pelas famílias, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. A situação é particularmente crítica em Luanda, onde a disparidade de preços entre clínicas das zonas centrais e das periferias atinge níveis alarmantes.
Uma simples consulta de medicina geral pode custar até 50.000 Kz nas clínicas mais conceituadas da cidade, contrastando com os 3.500 Kz cobrados nas periferias. No caso das grávidas, os preços oscilam entre os 5.000 Kz nas zonas menos favorecidas e os 53.000 Kz em unidades como a Girassol ou a Sagrada Esperança. As ecografias seguem o mesmo padrão: 6.000 Kz na periferia, até 66.000 Kz no centro.
Esta disparidade é justificada pela qualidade superior dos serviços, equipamentos e pessoal das clínicas mais caras, frequentadas sobretudo por clientes com seguros de saúde. Para a maioria da população, porém, estas unidades são inacessíveis, o que os obriga a recorrer a clínicas de bairro com serviços precários ou a enfrentar longas esperas e deficiências no sistema público de saúde.
A dependência da importação e a volatilidade cambial agravam ainda mais o custo da saúde, pressionando os preços para cima. Medicamentos vendidos nas periferias são mais baratos, mas, muitas vezes, de origem duvidosa e sem controlo de qualidade.
Especialistas apontam que a actual política de subsídios favorece quem já tem poder de compra, aprofundando as desigualdades no acesso à saúde. Enquanto não forem feitos investimentos estruturais na saúde pública e na indústria farmacêutica nacional, o acesso equitativo à saúde continuará a ser um desafio distante para a maioria dos angolanos.