Os generais rivais do Sudão ignoraram os avisos de fome em massa. Em mais de um ano de guerra brutal, as duas facções militares transformaram a ajuda humanitária numa arma.

O líder de facto do Sudão, o chefe militar Abdel Fattah al-Burhan, bloqueou a entrada de ajuda em pelo menos metade do país, sob o controlo das Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares chefiadas por Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemeti. Entretanto, as RSF estão a obstruir a entrada de camiões em locais controlados pelas Forças Armadas Sudanesas.

O conflito criou a maior crise de fome e de deslocação interna do mundo. Os combates empurraram 25 milhões de pessoas, mais de metade da população do país, para a fome aguda e forçaram cerca de 11 milhões de pessoas a fugir das suas casas, incluindo 2,3 milhões que fugiram para o estrangeiro. Mais de dois milhões de sudaneses poderão morrer até ao final deste ano, alertam as agências de ajuda humanitária.

Os dois lados da guerra civil sudanesa (que dura há cerca de 17 meses), cometeram abusos “horríveis” que podem constituir crimes de guerra, segundo um relatório de uma missão mandatada pela ONU. O governo militar do Sudão rejeitou uma proposta de peritos da ONU no sentido de enviar uma força de manutenção da paz para proteger os civis.

Para agravar a situação, a resposta humanitária está gravemente subfinanciada. Um apelo da ONU no valor de 2,7 mil milhões de dólares foi financiado em apenas 32%. Grande parte desse financiamento provém dos Estados Unidos. No entanto, as agências de ajuda humanitária dizem que os voluntários locais no terreno precisam de ser mais apoiados, uma vez que é altamente improvável um cessar-fogo no futuro imediato.

O conflito corre o risco de se transformar numa guerra eterna, em que vários atores externos aproveitam a oportunidade para alargar a sua influência. A Turquia, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e a Rússia foram acusados de armar as partes beligerantes.

Embora as negociações sejam essenciais, a atenção e a pressão dos EUA, por exemplo, deve também centrar-se noutras potências regionais com interesses no conflito, como a Eritreia e a Etiópia. Existem rumores que mercenários estrangeiros do Chade, Mali, Níger, República Centro-Africana e Líbia estão a combater no Sudão.

Mesmo que Burhan e Hemeti assinem um acordo de paz, é provável que muitos dos grupos armados locais envolvidos não o cumpram.

Os dois generais reuniram-se com vários líderes africanos, mas a União Africana tem estado ausente das negociações de paz.

Mais recentemente, Burhan reuniu-se com o presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, e com o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, na cimeira China-África.