A junta militar do Mali dissolveu todos os partidos políticos do país, no meio de uma crescente repressão à dissidência desde que o exército tomou o poder.
«Todas as reuniões de membros de partidos políticos e organizações de caráter político estão dissolvidas em todo o território nacional», de acordo com um decreto presidencial lido na televisão estatal.
O decreto foi assinado pelo líder militar Assimi Goïta, que tomou o poder após golpes em 2020 e 2021 e deve permanecer no poder por pelo menos mais cinco anos, apesar das promessas de realizar eleições.
A medida deve provocar uma nova resistência dos partidos políticos que têm exigido o retorno do país ao regime democrático. Desde o ano passado, as autoridades militares intensificaram a repressão às atividades políticas.
Uma conferência nacional organizada pelo regime — mas boicotada pelos principais partidos da oposição — no mês passado recomendou a nomeação do general Goïta como presidente até 2030.
A medida provocou a condenação de figuras da oposição e de grupos de direitos humanos. A junta tinha-se comprometido inicialmente a realizar eleições em fevereiro de 2022.
A ordem segue-se à suspensão de todas as atividades políticas — outra recomendação da conferência nacional — que provocou protestos entre a oposição.
Os líderes da oposição condenaram a dissolução dos partidos políticos.
«Por mais que tentem torná-los invisíveis, o vosso valor não depende do reconhecimento deles», publicou Nouhoum Togo, presidente do partido União para a Salvaguarda da República nas redes sociais.
Moussa Mara, ex-primeiro-ministro e figura da oposição, descreveu as restrições da junta como «um duro golpe aos esforços de reconciliação iniciados no ano passado».
Desde que assumiu o poder, o líder da junta formou uma aliança com os líderes golpistas dos vizinhos Burkina Faso e Níger, aproximando a região da Rússia após reduzir drasticamente os laços com a antiga potência colonial, a França.
O general Goïta também retirou o Mali do grupo regional Ecowas devido às suas exigências para restaurar o regime democrático. Burkina Faso e Níger também deixaram o grupo.