A China retirou o Corredor do Lobito da lista de projectos da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), num sinal claro de distanciamento em relação a Angola, um dos seus principais parceiros estratégicos em África. A decisão surge após o desfecho de concursos públicos considerados “viciados” por fontes próximas de Pequim, nomeadamente no processo de concessão da gestão do terminal ferroviário do Caminho-de-Ferro de Benguela e na administração do Porto do Lobito.

Apesar de não impor cláusulas formais que garantam controlo sobre os projectos que financia, a China valoriza a previsibilidade e a neutralidade política nos processos de adjudicação. No caso angolano, o consórcio chinês composto pela CITIC, Sinotrans e CR20 — esta última responsável pela construção do Caminho-de-Ferro de Benguela — foi preterido em favor de um consórcio liderado pela Mota-Engil, Trafigura e Vecturis. A situação agravou-se com a desistência de outro consórcio chinês da gestão do Porto do Lobito, após alegada interferência política.

Este afastamento não é apenas simbólico. A exclusão do Corredor do Lobito da ICR compromete um dos principais eixos logísticos que ligariam o Atlântico ao interior do continente africano, reflectindo o desgaste nas relações sino-angolanas. Em risco está também a inclusão do Novo Aeroporto Internacional de Luanda na ICR. O resultado do concurso para a sua gestão — que conta com um consórcio chinês entre os finalistas — poderá ditar a continuidade ou o agravamento deste distanciamento.

A postura da China revela uma nova assertividade na proteção dos seus interesses estratégicos em África, penalizando países onde identifica interferências políticas que comprometam a transparência e a previsibilidade dos investimentos. Angola, por ora, parece ter caído em desfavor.