Mais de metade dos angolanos (57%) admite já ter ponderado emigrar, com motivações maioritariamente económicas, revela um inquérito do Afrobarómetro realizado entre Março e Abril de 2024. A busca por emprego e melhores condições de vida está no centro desta tendência, sendo os jovens urbanos e qualificados os mais inclinados a deixar o país — um sinal alarmante de possível perda de capital humano estratégico para o desenvolvimento nacional.
A deterioração do contexto económico é central neste fenómeno. A escassez de oportunidades de trabalho, agravada pela desaceleração da actividade económica, tem empurrado muitos angolanos a procurar alternativas além-fronteiras. Como explica o economista Fernandes Wanda, o “Índice de Sofrimento Económico” entre os jovens de 15 a 24 anos disparou de 66,8% em 2022 para 81,9% em 2024, ilustrando o agravamento da precariedade juvenil.
O inquérito revela ainda que a propensão para emigrar é maior entre os mais escolarizados (74% dos cidadãos com ensino secundário e 72% dos universitários), bem como entre os trabalhadores (66%), demonstrando que mesmo aqueles com emprego não se sentem financeiramente seguros. Em contraste, apenas 27% dos inquiridos sem escolaridade ponderam sair do país, sugerindo que emigrar exige não só vontade, mas também recursos e capital humano.
Luanda, com 78% dos seus residentes a considerar emigrar, lidera esta tendência, reflexo das elevadas expectativas frustradas pela realidade socioeconómica da capital. Já nas zonas rurais, onde a exposição a redes de migração é menor, apenas 34% pensam em sair.
Portugal, com fortes laços históricos e culturais, surge como o destino preferido, absorvendo cada vez mais angolanos em busca de um futuro mais promissor.