O pessimismo dos consumidores angolanos agravou-se em 2024, atingindo níveis próximos dos registados durante a pandemia de Covid-19, apesar de a economia ter crescido 4,4%, o maior avanço desde 2014. De acordo com o Inquérito de Conjuntura no Consumidor (ICC), publicado pelo INE, o indicador de confiança dos agregados familiares manteve-se em terreno negativo pelo nono trimestre consecutivo, encerrando o ano com um saldo de -19,7 pontos.

Este valor traduz a diferença entre as respostas positivas e negativas dos inquiridos sobre a situação económica do país. Assim, a maioria das famílias continua a manifestar expectativas negativas, num contexto marcado por inflação elevada, desemprego estrutural e frágil impacto do crescimento económico no quotidiano.

O economista Álvaro Mendonça salienta que o crescimento do PIB em 2024, embora relevante, foi impulsionado sobretudo pelas receitas petrolíferas e investimento público, com fraca repercussão na geração de emprego e melhoria dos rendimentos. Apenas 14% da população em idade activa tem emprego formal, o que agrava a precariedade das famílias e limita o consumo privado.

A inflação, que fechou o ano nos 27,5%, contribuiu decisivamente para a erosão do poder de compra, num ambiente onde os salários não acompanharam o aumento dos preços. O desânimo generalizado, alimentado por uma década de fraco crescimento, recessão e instabilidade, reflecte-se no quotidiano de milhões de cidadãos, para quem a retoma económica ainda não chegou.

O indicador de confiança permanece, assim, um espelho da realidade sentida pelas famílias, revelando um país onde o crescimento económico oficial não se traduz, para já, em melhoria concreta das condições de vida.