A recente decisão de adiar a apresentação do orçamento anual da África do Sul, pela primeira vez desde o fim do apartheid em 1994, expôs as fragilidades da coligação governamental liderada pelo Congresso Nacional Africano (ANC). As divergências internas, especialmente em torno do aumento do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), evidenciam os desafios enfrentados pelo executivo para equilibrar as necessidades económicas e as expectativas políticas.
A proposta de aumento do IVA de 15% para 17%, apresentada pelo Ministro das Finanças, Enoch Godongwana, foi prontamente rejeitada pela Aliança Democrática (AD) e por outros parceiros de coligação. O aumento visava reduzir a dívida pública, mas foi considerado penalizador para as camadas mais vulneráveis da população, gerando críticas de todos os quadrantes políticos.
A tensão intensificou-se com o líder do partido de esquerda Combatentes da Liberdade Económica, Julius Malema, a propor alternativas, como o aumento do imposto sobre as sociedades e a criação de um imposto sobre a riqueza imobiliária. No entanto, a AD, com uma orientação pró-empresarial, manifestou-se contra estas medidas, levantando dúvidas sobre esta proposta.
Além das disputas fiscais, a coligação enfrenta outros desafios, nomeadamente a crise diplomática com os Estados Unidos, após o corte de ajuda ordenada pelo Presidente Donald Trump. A controversa lei de reforma agrária e a reforma linguística conhecida como Emenda às Leis da Educação Básica (BELA) aprofundaram as divisões políticas, dificultando o consenso no governo.
Com o orçamento revisto previsto para 12 de março, a coligação sul-africana terá de ultrapassar rapidamente estas divergências para evitar um impasse governativo e garantir a estabilidade económica e política do país. O futuro da coligação dependerá da capacidade de negociar compromissos e responder eficazmente aos desafios orçamentais e sociais que o país enfrenta.