A suspensão dos programas de ajuda da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) está a mergulhar a África subsariana numa crise humanitária sem precedentes. Os serviços essenciais de saúde, que dependem fortemente deste financiamento, enfrentam agora um colapso iminente, ameaçando a vida de milhões de pessoas.

A USAID desempenha um papel crucial em África, tendo canalizado mais de 11 mil milhões de dólares em assistência humanitária e sanitária só em 2024. No Uganda, por exemplo, dois terços do financiamento para o VIH provêm do PEPFAR, um programa emblemático dos EUA para o alívio da SIDA. Na Nigéria, 20% do orçamento de saúde do país é suportado por esta assistência. O súbito congelamento da ajuda já encerrou clínicas de VIH, interrompeu programas de imunização e ameaça o emprego de 54.000 profissionais de saúde no Quénia.

Embora a União Europeia e outros doadores tradicionais tenham prometido manter os seus compromissos humanitários, já afirmaram que não podem cobrir a lacuna deixada pelos EUA. O orçamento humanitário da UE para 2025 é de 1,9 mil milhões de dólares, com apenas 510 milhões destinados a África – uma fração do que é necessário para enfrentar esta crise.

Governos africanos, como a Nigéria e o Gana, tentam desesperadamente colmatar as lacunas financeiras, alocando fundos de emergência. No entanto, a capacidade de resposta é limitada, especialmente nos países de baixo rendimento, onde a ajuda dos EUA representa até 11% do rendimento nacional bruto.

Esta crise expõe a dependência estrutural de África da ajuda externa para serviços essenciais. Especialistas sugerem que o momento exige uma reavaliação dos modelos de financiamento, defendendo a criação de coligações que incluam países doadores, credores multilaterais e nações africanas de rendimento médio. Contudo, esta transição não ocorrerá à velocidade necessária para mitigar o impacto imediato do congelamento da USAID.

A crise em África é um apelo urgente à ação global. Se a comunidade internacional não reagir rapidamente, as consequências serão devastadoras e prolongadas, colocando em risco o futuro de milhões de pessoas no continente.