A recente decisão de Donald Trump de cortar a ajuda à África do Sul, alegando “discriminação racial injusta” contra os afrikaners, marca um novo capítulo na sua abordagem controversa à política externa. Esta ação, acompanhada pela concessão do estatuto de refugiado a um grupo historicamente privilegiado, destaca o alinhamento de Trump com interesses que ressoam junto da sua base política interna, mas que arriscam desestabilizar relações estratégicas internacionais.
O foco na reforma agrária sul-africana revela uma tentativa de explorar divisões raciais para ganhos políticos, ignorando a complexidade histórica e social do país. Apesar de Trump alegar defender os direitos humanos, a sua escolha de apoiar um grupo privilegiado contrasta com a sua política de imigração restritiva em relação a refugiados de zonas de conflito em outras partes do mundo. Esta contradição não passou despercebida a Pretória, que rapidamente denunciou a ordem executiva como “propaganda desinformada”.
A reação cautelosa do Congresso Nacional Africano (ANC) reflete a preocupação com possíveis repercussões económicas. A África do Sul, uma das maiores economias de África e um parceiro comercial essencial para os EUA, desempenha um papel vital na cadeia global de fornecimento de minerais críticos, como a platina. Qualquer deterioração nas relações pode beneficiar diretamente a China, que já domina o mercado de minerais essenciais para tecnologias emergentes.
Além disso, o envolvimento de Elon Musk – com interesses comerciais diretos na região – levanta questões sobre a influência de bilionários na política externa americana. As críticas ao governo sul-africano coincidem com obstáculos regulatórios enfrentados pela sua empresa Starlink, suscitando dúvidas sobre a imparcialidade das ações de Trump.
Ao priorizar narrativas polarizadoras e interesses comerciais individuais, a abordagem de Trump à África do Sul arrisca comprometer a posição estratégica dos EUA em África, num momento em que a influência chinesa está em ascensão. Nesta guerra diplomática, é improvável que haja vencedores claros.