Mesmo querendo ser imparcial, há momentos em que não é possível aturar mais disparate.

A colocação da Angola na lista cinzenta do GAFI pode parecer algo desinteressante, mesmo burocrático, mas é grave, porque é um símbolo de mau trabalho. Desde Julho do ano passado se sabia dessa possibilidade. As autoridades tiveram um ano para agir e evitar a vergonha. Agora consuma-se a ameaça e todos fingem que não é com eles.

A responsabilidade desta falha é de alguém. E esse alguém- Ministra das Finanças? Governador do banco central? Director da Unidade de Informação Financeira? Devia-se imediatamente demitir.

A entrada do país na lista cinzenta é um símbolo de desconfiança da comunidade internacional no Estado de Direito e na capacidade do governo de Angola em executar a lei. Um símbolo poderoso que coloca em causa anos de trabalho de João Lourenço. Um retrocesso. Não se pode simplesmente assobiar para o ar. A incompetência, o desleixo, a arrogância, devem ser punidos.

No dia em que se sabe essa notícia desastrosa, vem um tolo, o Director da Unidade de Gestão da Dívida, do Ministério das Finanças garantir em entrevista, à margem das reuniões anuais do grupo Banco Mundial e FMI, que decorrem em Washington, nos Estados Unidos, que o país pode pagar na totalidade 10 mil milhões de dólares da dívida colateral, que tem com a China, dentro de quatro anos, não envolvendo a dívida comercial. Bom, se calhar até pode, mas não pagaria mais nada…

Anda o governo a negociar um novo empréstimo com o FMI, disse João Lourenço em Março passado que a dívida à China sufocava o país, sabe-se que há uns meses houve dificuldades em pagar ordenados da função pública por falta de liquidez, e o tolo vem dizer que se vai pagar a dívida toda à China… a que custo, com que sacrifícios?

É evidente que isto é uma tolice. A estratégia devia ser confrontar a China com os seus erros e garantir um pagamento suave da dívida, não uma brutalidade destas que poderá colocar em causa a gestão prudente do tesouro angolano. Haja juízo.