A agricultura tem vindo a perder empregos, e por seu lado, o comércio tem beneficiado com isso. Entre Dezembro de 2023 e Julho de 2024, o sector da agricultura em Angola enfrentou uma grande perda de empregos, com cerca de 550 mil trabalhadores a deixar esta atividade. Este declínio foi acompanhado por um crescimento significativo no sector do comércio, onde o número de trabalhadores continuou a aumentar. Em face desta situação, nos últimos anos, o que se tem verificado paulatinamente é uma migração dos trabalhadores rurais para a cidade, muitas vezes resultando em condições de vida precárias.

Os relatórios do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, no final do primeiro semestre de 2024, cerca de 44,8% da população empregada estava no sector primário, dos quais a maioria trabalhava na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca. No entanto, houve uma queda significativa no número de trabalhadores neste sector nos últimos seis meses. Por outro lado, o sector do comércio, que inclui a reparação de veículos, empregou aproximadamente 2.712.383 pessoas em apenas seis meses, representando um aumento de 467 mil em comparação com o final de 2023.

Estes relatórios, embora baseados em inquéritos a agregados familiares, fornecem indicadores que permitem analisar questões relacionadas ao emprego e outras mudanças na sociedade angolana. Apesar da diminuição recente, há uma tendência de longo prazo de diminuição de empregos no sector primário. Isso fica evidente pelo facto de que, em 2020, apenas cerca de 6 milhões de angolanos estavam empregados na agricultura, em comparação com os atuais 5,4 milhões. Além disso, há quase 627 mil pessoas a mais a trabalhar no sector do comércio em comparação com 2020. Como seria de esperar estes dois sectores representam a maioria dos empregos no país, mas a maioria deles é trabalho informal.

Apesar de oferecer vantagens como maior segurança alimentar e empregabilidade, a predominância do trabalho informal resulta numa baixa produtividade e condições de vida precárias para os trabalhadores pouco qualificados e com baixos níveis de educação.

Esta migração dos trabalhadores da agricultura para o comércio representa um desafio significativo para o desenvolvimento sustentável e para a promoção de condições de vida adequadas.