Ainda só se passaram dois anos desde as eleições de 2022 e parece uma eternidade. A intensidade do debate político em Angola não esmoreceu e há uma quotidiana tentativa de colocar tudo em causa.

Numa democracia normal, a oposição opõe-se e o governo governa.

Em Angola, a oposição diariamente contesta a legitimidade do governo ser governo e o governo parece viver num mundo diferente. Não há uma democracia funcional.

Há aspectos positivos na governação de João Lourenço que são esquecidos nos retratos totalmente negativos que se fazem: a nova política externa, em que não há uma semana em que um dignatário internacional não aterre em Luanda e os esforços para a paz no Congo; as novas estruturas de saúde, energia e águas; a abertura ao investimento externo. Estes são aspectos obviamente positivos do mandato de João Lourenço.

Do ponto de vista negativo, temos três grandes falhas: a ineficácia no controlo da inflação, que está a acarretar problemas em catadupa; a falta de sucesso final no combate à corrupção e o grande peso da dívida pública que está a ter um efeito dramático nas contas públicas e na vida concreta das pessoas. Na verdade, a inflação e a dívida pública acarretam atrasos de salários, que por sua vez cada vez compram menos bens. Este é cada vez mais o problema essencial de Angola.

Além disso, a instabilidade social que se está a acentuar conjugada pela inépcia da maior parte dos ministros em comunicar o seu trabalho, parecendo divorciados da população, bem como a apatia do partido que sustenta o governo, é outro dos problemas.

Portanto, o balanço não é tão negativo como as inundações nas redes sociais fazem crer, mas podia ser bastante melhor. Faltam três anos. Se uma semana é muito tempo em política, três anos é uma eternidade. Querendo-se, tudo pode ser feito.