Ficou na moda comparar João Lourenço a Marcelo Caetano em Portugal. É verdade que ambos sucederam a longos períodos de ditadura de um só homem, José Eduardo dos Santos e Salazar, respectivamente. É verdade que ambos prometeram uma abertura e evolução que tiveram dificuldades em garantir. No entanto, as comparações, podem servir como pedagogia, mas não servem para prever o futuro.
O certo é que Marcelo Caetano poderia ter evoluído doutra forma. Tinha capital político para fazer a mudança. O que o perdeu foi a hesitação, o ainda ter em conta os interesses dos passadistas salazaristas. O seu principal erro foi reconduzir Américo Tomás (um fiel salazarista) como Presidente da República em 25 de Julho de 1972. Este foi o momento em que Marcelo se rendeu ao passado, quando poderia ter aberto o caminho para o futuro. A hesitação e cedência aos salazaristas, tramaram-no.
João Lourenço tem a lição da história para não hesitar e não ceder. Não pode ter saudades do passado, nem cedências a supostos apoiantes de Eduardo dos Santos ou outros sinuosos bajuladores. Tem nas mãos o futuro de Angola, aprofundando as reformas que encetou: abertura política, abertura económica, combate contra a corrupção. A alternativa não é recuar, hesitar, andar para trás. A alternativa é intensificar a reforma, acelerar o passo nestes três anos, aproveitar o Congresso para avançar.
Isto quer dizer que pode ter um final como Deng Xiao Ping. Depois da contestação, o avanço sem hesitação.