O presidente ruandês, Paul Kagame, ganhou um quarto mandato. Pelo menos assim mostram os resultados provisórios; tudo aponta para que obtenha cerca de 99 % dos votos após as eleições presidenciais e parlamentares. Kagame concorreu praticamente sem contestação, já que a maioria dos seus oponentes foi impedida de concorrer contra ele.

Kagame assumiu o cargo pela primeira vez em 1994, após liderar a ala armada do grupo rebelde Frente Patriótica Ruandesa, dominado pelos tutsis, para a vitória sobre os extremistas hutus, encerrando um genocídio que matou mais de 800.000 pessoas. Ele venceu todas as eleições desde então. Ele até obteve 99% dos votos nas últimas eleições de 2017, o que os críticos consideram implausível numa votação democrática. Cada eleição é realizada sem nenhuma competição real, já que os críticos mais vocais de Kagame são quase sempre desqualificados por vários motivos.

Frank Habineza, do Partido Verde Democrático de Ruanda, e Philippe Mpayimana, um candidato independente que é um ex-jornalista, foram os dois oponentes autorizados a concorrer — os mesmos que Kagame enfrentou em 2017. Eles não têm os recursos financeiros e a maquinaria de campanha para montar uma oposição bem-sucedida, dizem os analistas políticos.

Kagame é para os ruandeses um visionário que acabou com as divisões étnicas no país e um ditador. Muitos ruandeses elogiam a transformação económica do país sob a sua liderança, incluindo o acesso ampliado à eletricidade, estradas pavimentadas e outros serviços públicos vitais. Ele demitiu membros do gabinete implicados em corrupção e responsabilizou-os de baixo desempenho.  De acordo com a Transparency International, Ruanda está entre os países menos corruptos da África graças a essas políticas.

Contudo as críticas proliferam. Não há imprensa livre em Ruanda. Há grupos de direitos humanos e ativistas da oposição que acusam Kagame de organizar o assassinato de críticos no exterior.

Apesar do grande envolvimento de doadores, o país continua pobre, a par de países sahelianos que enfrentam conflitos como Mali e Níger. Mais de 40 % do orçamento do estado vem de ajuda externa. Os críticos argumentam que pelo menos parte da ajuda que o país recebe de governos estrangeiros é usada para exportar terrorismo nos países vizinhos. Por seu lado, o Ruanda acusa o exército congolês de recrutar entre antigos perpetradores do genocídio de 1994. No entanto, o presidente da RDC, Félix Tshisekedi, acusou o Ruanda de usar o argumento de caçar genocidas no Congo para massacrar civis e explorar minerais de sangue do país.

Os EUA e a ONU acusaram o Ruanda de apoiar o grupo rebelde M23 no leste do Congo, o que Kigali nega. “A RDC tem todo o poder para acalmar a situação se quiser, mas até lá, Ruanda continuará a defender-se”, disse a porta-voz do governo, Yolande Makolo.

Especialistas em segurança estão preocupados, tanto com uma guerra Ruanda-Congo quanto com o que acontece nas décadas após Kagame. O governo ruandês mudou a constituição em 2015 para permitir que Kagame concorresse a um quarto e quinto mandato, permitindo que ele permanecesse no cargo potencialmente até 2034. Mas, dada a erosão absoluta das instituições democráticas sob o seu comando, uma era pós-Kagame pode estimular a instabilidade.