É um facto que João Lourenço tentou uma aproximação aos Estados Unidos, que aliás foi bem recebida por este país, e demonstrou uma nova capacidade da política externa angolana.
Contudo, o mundo está complexo e este tipo de movimentos encontra fortes resistências, sobretudo, da China e da Rússia, que entraram numa nova Guerra Fria com os Estados Unidos.
A verdade é que a aproximação de Angola aos EUA está a ter contratempos e demonstrando sinais de alguma hesitação, conferindo vitórias à China e Rússia.
Dois factos recentes comprovam esse recuo ou ameaça nas relações EUA-Angola, e a predominância russo-chinesa.
Em primeiro lugar, a ausência de Angola da chamada Cimeira da Paz sobre a Ucrânia a ser realizada em breve na Suíça. É verdade que não se trata duma verdadeira cimeira de paz, mas um encontro dos EUA e seus aliados para tentar alcançar uma situação conveniente para o desenrolar da guerra da Ucrânia. No entanto, a ausência de Angola demonstra um afastamento do país das pretensões americanas e um alinhamento com o desinteresse que a China demonstrou pelo tema.
Em segundo lugar, temos o recente anúncio do Governo angolano que está a ponderar rescindir o contrato com a empresa que venceu o concurso de construção da refinaria do Soyo, que tem tido dificuldades para obter financiamento, disse hoje o titular da pasta dos petróleos. Trata-se de um consórcio liderado pela Quanten ganhou, em 2021, um concurso público internacional para a construção da refinaria do Soyo, que é constituído por quatro empresas, sendo três norte-americanas (a líder do consórcio Quanten LLC, a TGT INC e a Aurum & Sharp LLC) e uma angolana (ATIS Nebest).
De notar, que anteriormente, esta construção tinha sido atribuída a uma empresa chinesa, a quem foi retirada a possibilidade, e que também uma empresa chinesa ficara em segundo lugar no referido concurso.
Vê-se, perfeitamente, que a decisão de 2021 foi uma aposta angolana nos EUA em detrimento da China, e que agora os EUA não cumpriram o que se esperava deles, entregando, com toda a probabilidade o futuro da refinaria à China. Depois não se podem queixar…
Temos então dois factos, que não são definitivos, mas que mostram que a aproximação de Angola aos EUA tem vários problemas que não estão resolvidos, e que a China está de forma sub-reptícia a contrabalançar estes movimentos, podendo perfeitamente no final levar a melhor sobre os EUA…