Definitivamente, os tempos estão a mudar. O MPLA que foi tão próximo do bloco russo (soviético), no período da guerra civil e posteriormente, tem mudado de rumo nas suas relações externas, principalmente nos últimos anos.

Pode-se insistir que a relação com a Rússia se mantém, e que ela é inabalável, mesmo com a invasão tão criticada da Ucrânia. Mas, é inegável a viragem para o ‘Tio Sam’, sobretudo depois da saída de Trump, que em abono da verdade, nunca ligou a África.

Agora o nível de cooperação entre os dois países vai ganhar um novo impulso em matérias de defesa.  Durante um encontro no Pentágono em Washington, o ministro da Defesa de Angola, João Ernesto dos Santos, revelou o interesse do país em adquirir dos Estados Unidos um sistema de construção de máquinas militares de última geração, além de veículos de transporte logístico e aeronaves.

O ministro destacou a intenção de Angola em aprofundar as relações de defesa com os EUA, visando fortalecer a capacidade técnica e operacional do seu sector militar. A cooperação incluiria a aquisição de um sistema de pontes fornecido pela Acrow Bridges, uma frota de veículos táticos leves da General Motors Defense, e veículos de transporte e logística da Oshkosh Defense.

João Ernesto dos Santos realçou que esta visita aos EUA não é apenas comercial, mas também uma oportunidade para promover uma agenda de prevenção e resolução de conflitos por meios pacíficos e diálogo interestatal. Além das aquisições, a viagem serve para visitar algumas empresas americanas com o objetivo de estreitar a colaboração e fortalecer a relação de cooperação bilateral.

Angola está comprometida com o desenvolvimento de políticas de defesa e segurança africanas, visando garantir paz, estabilidade e coesão no continente. O ministro salientou a importância da cooperação bilateral e multilateral para garantir a competitividade de Angola no cenário internacional, preservando os interesses nacionais dentro e fora do continente africano. Ele destacou que a inserção de Angola em organizações regionais africanas é uma prioridade estratégica, dada a importância geoestratégica e geopolítica do país e as complexidades históricas, geográficas, económicas e culturais que enfrenta.

Por outro lado, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin, considerou Angola como um parceiro estratégico e um líder regional. Ele destacou os laços profundos e crescentes entre as duas nações, lembrando a Cimeira de Líderes EUA-África de 2022, onde o sucesso de África foi identificado como essencial para o sucesso global. Austin recordou a sua visita a Angola em setembro do ano passado, um marco em que discutiu importantes questões com o presidente angolano João Lourenço e outros oficiais de defesa.

Ele também elogiou a cooperação em áreas como segurança marítima, manutenção da paz e política de defesa, indicando que há um enorme potencial para expandir essa parceria. Áreas como cibersegurança e a possível participação de Angola no Programa de Parceria Estatal dos EUA foram citadas pelo secretário de Defesa. Lloyd Austin finalizou expressando a disposição dos EUA em continuar colaborando com Angola para promover a paz, segurança e governança responsável, aguardando com expectativa a modernização das forças armadas angolanas.

Visivelmente, este encontro reforçou a importância da colaboração Angola-EUA, com planos concretos para aumentar o investimento em defesa e explorar novas áreas de cooperação estratégica. Contudo, é também mais um ‘serviço de despertar’ para a Rússia, que pelo menos, na aparência, a sua esfera de influência tem vindo a diminuir em Angola, ao contrário do que se tem verificado em outros países africanos, designadamente, na região do Sahel.