O novo primeiro-ministro do Senegal, que foi libertado da prisão semanas antes das eleições presidenciais do início deste ano e que levou o seu partido à vitória, criticou a presença militar francesa no país.
Ousmane Sonko também criticou os esforços da França e do Ocidente para promover valores que, segundo ele, não se coadunam com os valores defendidos pelo Senegal e por outros países africanos, incluindo os direitos LGBTQ e a monogamia. A poligamia é amplamente praticada no Senegal.
Sonko discursou recentemente num evento organizado conjuntamente com o político francês de extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon na capital, Dakar.
Sonko é conhecido pelas suas críticas à ingerência da França, que é o antigo governante colonial do Senegal. As suas opiniões inflamadas, numa região onde outros vizinhos já tomaram medidas para cortar os laços com a França, ajudaram o candidato escolhido por ele, Bassirou Diomaye Faye, a vencer as eleições presidenciais de março.
“Quero reiterar o desejo de autodeterminação do Senegal, que é incompatível com a presença a longo prazo de bases militares estrangeiras no Senegal”, disse Sonko.
Sonko afirmou que o desejo de questionar a presença de forças francesas e de outras forças estrangeiras não prejudica os tratados de defesa existentes que o Senegal assinou com esses países. A França tem cerca de 350 tropas no Senegal.
Enquanto Sonko avisava que a promoção dos direitos LGBTQ poderia causar conflitos entre o Senegal e a França, Mélenchon respondeu que tinha introduzido legislação que permitia o casamento entre pessoas do mesmo sexo em França.
“Pensei que esta liberdade de amar qualquer pessoa tinha de estar aberta a todos os que dela quisessem usufruir”, afirmou o político francês.
O Senegal é considerado um pilar de estabilidade numa região que tem sofrido uma onda de golpes de Estado nos últimos anos, e as observações de Sonko são susceptíveis de chamar a atenção dos aliados ocidentais.
Na sequência de golpes de Estado no Mali, Burkina Faso e Níger, os três países expulsaram as tropas francesas e recorreram à Rússia para ajudar a combater as insurreições que se arrastam há anos. Os três países também formaram a sua própria aliança de Estados do Sahel, provocando uma cisão no seio da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Sonko, cujo partido afirmou que a CEDEAO precisa de ser reformada, reiterou as críticas ao bloco regional por ter permitido que as divisões crescessem.
“Não abandonaremos os nossos irmãos do Sahel e faremos tudo o que for necessário para reforçar os nossos laços”, afirmou.