Pelas palavras que temos ouvido, a visita do Presidente da República à China foi um sucesso e garantiu aquilo que entendíamos como os dois objectivos da viagem: a negociação da dívida e a mudança de paradigma, para que China passasse de credora financeira, para investidora.

No entanto, há sempre que ter cautela. As elites angolanas e a administração pública têm um grave problema, falam, mas não fazem.

Entre as palavras desafiantes de João Lourenço e a realidade costuma haver sempre um largo intervalo, que é dito não é o que é feito.

Isto tem acontecido nas áreas chave da governação do Presidente: combate à corrupção e reforma da economia. Há leis, há discursos, mas não há prática. E não há prática porque o pessoal político é o mesmo do tempo de José Eduardo dos Santos. Um pessoal que viveu na corrupção, que coloca os negócios acima do bem público, que não quer nenhuma reforma económica para não perturbar os interesses financeiros. No fundo, admitem umas mudanças cosméticas para ficar tudo na mesma.

Este é o perigo que acompanha João Lourenço todos os dias, em todos os actos. E obviamente pode acontecer com a China. Vinte grandes empresas chinesas foram recebidas por Lourenço, anunciado grandes planos ou intenções de investimento. Quantas dessas empresas irão efectivamente concretizar as suas intenções e quantas serão desmobilizadas pelos obstáculos habituais existentes em Angola?

Esta é a grande questão.