O resultado principal da Cimeira do Dubai sobre o clima anunciado ontem foi o apelo aos Estados para que iniciem uma transição para longe dos combustíveis fósseis, de forma ordenada e equitativa, acelerando a acção nesta década crítica, com o objectivo de atingir zero emissões líquidas até 2050, de acordo com a ciência. Podemos duvidar se todos vão cumprir, se é exequível, mas o certo é que coloca uma nova pressão nos estados petrolíferos e sobretudo nas companhias petrolíferas.

Com este anúncio o valor da Sonangol diminuiu dramaticamente no mercado internacional. A estratégia do seu presidente de ir empurrando a privatização parcial pode redundar num fracasso, pois só as empresas petrolíferas fortes e musculadas sobreviverão. O erro de Sebastião Martins vai-se pagar caro, até porque apesar do anúncio de intenções de transição energética e acordos com a ENI italiana, deve estar tudo por fazer. Em 2021, os responsáveis da companhia falavam da expansão também dos seus objectivos respeitantes às energias renováveis, com a adopção de novos programas e iniciativas que impulsionam o progresso, designadamente a hibridização do país, que visa expandir a utilização da energia renovável em Angola. Referiam que estavam a “estudar um grande número de modelos alternativos de instalações, de modo a diminuir os custos operacionais e ajudar o meio ambiente. Temos visto postos de abastecimento movidos a energia solar, um local de venda e troca de baterias e equipamentos de carregamento. Temos alguns parques industriais que não estão conectados à rede e que constituem uma oportunidade para vender energia renovável. Estamos ainda a ponderar realizar estudos para melhorar e maximizar a indústria dos biocombustíveis e promover a utilização do hidrogénio verde em Angola”.

Portanto, só intenções e estudos. A pergunta que hoje se faz é se alguma coisa avançou ou foi só conversa?

Há o recente anúncio da assinatura de um Memorando com a ENI com vista a materializar inserido a estratégia de transição energética da petrolífera angolana, que prevê a identificação e avaliação de um conjunto de oportunidades como, cadeias de abastecimento agroindustriais para a produção de combustíveis com menos emissões de carbono (hipocarbónicos); valorização da biomassa residual e do amoníaco verde para aplicações neste sector; estudos para a promoção de sinergias entre as cadeias produtivas agrícolas nacionais e a bioenergia, com enfoque no aprimoramento de sementes e serviços aperfeiçoados de biotecnologia, mecanização, fertilizantes e logística.

Algo saiu do papel?

E a Galp? A Sonangol tem uma participação adormecida na Galp-que nunca quis acordar. Poderia ter desenvolvido com a Galp um verdadeiro projecto de transição energética. Tanto quanto se sabe, nada.

Obviamente, não é tarde para dotar a Sonangol duma gestão moderna, com ideias rasgadas, que abrace a transição energética e a exploração do petróleo enquanto durar, e proceda à privatização parcial para trazer novos investimentos e ar fresco. Mas por agora temos mais um fiasco escondido, que custou biliões ao erário.